A escrita feminina

A partir da relação entre homens e mulheres, surgem as abordagens de gênero. É essencial, antes de mais nada, lembrarmos que essa relação, construída ao longo da história, foi edificada em uma estrutura de poder.
Masculino e feminino são opostos. Ao masculino, as características de ação, determinação e expansividade foram atribuídas. Ao feminino a fragilidade, a passividade, o silêncio.

Essas características também foram retratadas por diversas escritoras que compartilharam seus olhares na série Literatura, Substantivo Feminino, em produção pelas Mulheres de Luta, acentuando a construção histórica em torno do feminino.

Marina Colasanti entende que o seu olhar como escritora, assim como o seu cérebro são femininos, pois ambos são uma construção social, seja de acordo com a sua vivência, seja com relação a sua posição no mundo.

Não se trata de reforçar valores femininos que foram impostos, mas de passar por eles, de não ignorá-los ou tentá-los substituir ou alterar por outros.

O mesmo pensamento é sublinhado por Alice Ruiz, que enfatiza o fato de que não é possível se desprender desse olhar, porque ele é parte da pessoa que escreve.

O olhar feminino de Eliane Potiguara é seu e de suas ancestrais. O feminino se manifesta não nas características da sociedade patriarcal branca. Sua cultura indígena renova nosso feminino com a figura da mãe, da guerreira, da mulher selvagem.

O espaço intimista, no entanto, não é mais aquele imposto pela opressão social. Trata-se do espaço interno feminino, local de onde brotam todas as criações. Seja o espaço do ventre da mãe ancestral, pronta para gerar seus filhos como relata Eliane Potiguara, seja do íntimo de Conceição Evaristo, lugar onde cada escritora guarda seus textos já escritos, bastando apenas encontrá-los e trazê-los em linhas.

Sandra Niskier destaca que a escrita é ao mesmo tempo feminina e masculina, pois exige contemplação e ação.

Na esteira histórica da construção do feminino e masculino, Luiza Lobo reforça a importância de percebermos os clichês que criamos. Feminino e masculino sofrem suas modificações conforme a sociedade se modifica.

Luiza Lobo fala da importância de entendermos nossa história a fim de compreendermos a diferenciação utilizada para atribuir características consideradas femininas ou masculinas.

Esse jogo também é percebido por Noemi Jaffe.

O importante é que a escrita feminina tenha uma característica essencial que não esteja necessariamente na passividade, ou na fragilidade, embora também possa ser vivida nesse lugar.

O essencial é que a escrita feminina seja realizada por mulheres, com suas mais variadas referências e histórias.

O feminino pode ser passivo e ativo, silencioso e barulhento, pode evocar a mãe para a criação e pode destruir paradigmas para reconstruir novas formas de pensar.