Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917), autora do romance Úrsula (1859), primeiro romance abolicionista publicado por uma mulher negra no Brasil, sob pseudônimo Uma Maranhense, nasceu na Ilha de São Luís, Maranhão, em 11 de outubro de 1825, cerca de três anos após a Independência do Brasil.
Mesmo registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis, viveu parte de sua vida na vila de São José de Guimarães, com uma tia materna melhor situada financeiramente. Lá, teve seus primeiros contatos com a literatura por influência de Sotero dos Reis, professor, gramático e filólogo; familiar com o qual conviveu e no qual encontrou suas primeiras referências.
Além de escritora, tornou-se a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão. Era para o cargo de professora de primeiras letras para a Cadeira de Instrução Primária na vila de São José de Guimarães, onde atuou de 1847 até 1880.
Nessa época era um costume festejar os mais novos aprovados com um desfile, onde homens pretos escravizados os carregavam nas costas. No entanto, Maria Firmina dos Reis, com muita fúria e força, se recusou a participar desse circo de horrores. Esse foi um dos muitos protestos que viriam ao longo da sua marcante trajetória:
— Escravos não são bichos para levar pessoas montadas neles.
— Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um grande mal. […] O escravo é olhado por todos como vítima – e o é. O senhor, que papel representa na opinião social? O senhor é o verdugo – e esta qualificação é hedionda”, diz um trecho de sua obra, A Escrava.
No início da década de 1880, iniciou um processo de revolução educacional ao fundar uma escola gratuita para crianças de ambos os sexos, que escandalizou os círculos locais e foi suspensa pouco mais de dois anos após ser fundada. O fato de ter inaugurado a primeira escola mista do país, indica as ideias avançadas de Maria Firmina dos Reis visto o período.
Vale ressaltar o objetivo religioso que pautava a educação feminina no século XIX, ademais da aprendizagem voltada à tarefas consideradas inerentes ao gênero como: bordado, piano e ensino do francês, língua compreendida como da sociedade.
Segundo Zahidé Muzart, a professora se fez presente também na empresa local, através de publicações colaborativas à jornais literários, tais como A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista e outros periódicos (MUZART, 2000).
Maria Firmina conquistou ainda o primeiro lugar em História da Educação Brasileira, que lhe valeu o título de Mestra Régia. Em 1881, mesmo afastada do ensino público oficial, seguiu ensinando aos filhos de lavradores e fazendeiros no Maranhão.
O texto mais relevante, utilizado para conhecimento sobre a escritora, é intitulado Resumo da minha vida. Onde, em tom melancólico, Firmina conta sobre sua infância e solidão. A autora demonstra plena consciência acerca dos problemas enfrentados por uma educação patriarcal: uma espécie de educação freirática.
Por essa razão, quis ministrar uma educação diferente, educando juntos ambos os sexos. Sabe-se também que o ensino público e particular no Maranhão eram precários e quase inexistente à educação voltada às meninas, principalmente negras.
Nessa perspectiva, o romance Úrsula é fundamental para refletir sobre o ponto de vista da autora acerca de seu contexto: uma mulher negra, intelectual, vivendo a época da escravidão no Brasil.
Sua obra traz à narrativa dois escravos que pela primeira vez tem voz. Remete o leitor a uma outra África, uma terra de liberdade, diferente da propagada pelo colonizador. A visão de Maria Firmina escapa também ao estereótipo da “mulata sensual”, utilizado por Aluísio de Azevedo em O cortiço (1890). Seus personagens, ainda que secundários, remetem invariavelmente a subalternidade imposta durante o contexto.
A autora aborda o tráfico negreiro a partir do negro escravizado e subumanizado, se refere aos traficantes europeus como “bárbaros”, contrapondo a educação freirática que justifica a colonização através de interpretações – racistas – da Bíblia e foi amplamente compreendida como empreendimento civilizatório.
A luta psicológica dos personagens pela própria identidade supera as simples descrições de navios negreiros. A visão de Maria Firmina é bem mais ampla e refinada que em geral (MARTIN, 1988).
É preciso lembrar que a província do Maranhão era considerada fortemente escravista, pairava a ideia, derivada da política de branqueamento, que os escravos contaminavam os brancos com suas crenças e vícios. Tais ideias eram alimentadas, além da Igreja, pelo biologismo do século XIX, teoria que classifica a variedade humana entre raças superiores e inferiores.
No quesito produção intelectual, Maria Firmina dos Reis foi coerente à perspectiva da época, seguiu o caminho traçado pela literatura ocidental, onde as personagens seguem o padrão de cumpridoras dos deveres para com seus senhores, leais e honestas.
Ainda assim, conferiu grande importância às personagens negras escravas no século XIX, quando a imagem do negro na literatura era a do escravo maltratado, submisso ou louco. Pesquisadores entendem o texto da escritora maranhense como literatura do testemunho, onde pela primeira vez os negros têm voz atuante na denúncia dos males da escravidão e no resgate de uma África como espaço de civilização e liberdade, distorcida pelo colonizador.
Mesmo publicado em 1859, o livro Úrsula só recebeu o devido reconhecimento após ser encontrado em um sebo, por Horácio de Almeida, em 1962. Após pesquisa, Horácio identificou a autora por trás do pseudônimo Uma Maranhense e lançou uma nova edição do romance. No prólogo da edição, questiona a ausência de Firmina nos estudos críticos relacionados à literatura.
Pouco se sabe da autora. Seu nome, Maria Firmina dos Reis, permaneceu mais de um século sepultado no esquecimento. De espantar e que isso tenha acontecido no Maranhão, terra que foi no passado um viveiro de homens ilustres, muitos dos quais com repercussão além das fronteiras do Brasil (ALMEIDA, 1975).
Uma das justificativas relacionadas à ausência de Firmina, traz à luz a preocupação dos literários com o estético. Na literatura de testemunho, não há, primordialmente, preocupação com o estético. Há pessoalidade na escrita frente às injustiças do contexto do autor(a), que traduz sua experiência de marginalização e exclusão social.
O legado de Maria Firmina dos Reis
Livros como o de Maria Firmina dos Reis são as primeiras manifestações de mulheres brasileiras através da literatura. Ela nos conta, com suas obras e legado, os limites aos quais estavam confinadas as mulheres, principalmente as mulheres negras, de seu tempo.
Com sua referência, abriu portas à intelectuais como Conceição Evaristo: atuante na área da educação e produção textual desde meados do século XX, grande nome dos movimentos de valorização da cultura negra no Brasil.
Como Cristiane Sobral, primeira atriz negra formada em Interpretação Teatral pela Universidade de Brasília (UnB). Escritora, dramaturga e poeta brasileira, publicou em 2010 o Não vou mais lavar os pratos, livro que reúne 123 poemas relacionados ao cotidiano, dentre eles: Imagens de uma África longínqua e ancestral, Situação atual da mulher negra e o Grito da negritude.
O poema que intitula o livro, faz jus ao anseio por liberdade, além de denunciar opressões de classe, raça e gênero. Nele, a escrita surge como uma libertação quando a mulher, ao aprender a ler, rechaça sua exclusão social e opressão doméstica.
Não vou mais lavar os pratos. Nem limpar a poeira dos móveis. Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um livro e uma semana depois decidi. Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem arrumo mais a bagunça das folhas no quintal. Sinto muito. Depois de ler percebi a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética, a estática. Olho minhas mãos bem mais macias que antes e sinto que posso começar a ser a todo instante. Sinto. Agora sinto qualquer coisa. Não vou mais lavar os tapetes. Tenho os olhos rasos d’água. Sinto muito. Agora que comecei a ler, quero entender o porquê, por que e o por quê. Existem coisas. Eu li, e li, e li… Eu até sorri e deixei o feijão queimar. E olha que feijão sempre demora para ficar pronto…Considere que os tempos agora são outros… Ah, esqueci de dizer: não vou mais. Resolvi ficar um tempo comigo. Resolvi ler sobre o que se passa conosco. Você nem me espere, você nem me chame. Não vou. De tudo o que jamais li, de tudo o que entendi, você foi o que passou. Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto. Desalfabetizou. Não vou mais lavar as coisas e encobrir as sujeiras inteiras, nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para ali e de lá para cá. Desinfetarei minhas mãos. Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a ler. Sendo assim não lavo mais nada e olho a poeira no fundo do copo. Vejo que sempre chega o momento de sacudir, de investir, de traduzir. Não lavo mais os pratos. Li a assinatura de minha lei áurea. Escrita em negro maiúsculo, em letras tamanho 18, espaço duplo. Aboli. Não lavo mais os pratos. Quero travessas de prata, cozinha de luxo e joias de ouro. Legítimas. Está decretada a Lei Áurea (SOBRAL, 2010).
Outra intelectual que teve como referência Maria Firmina dos Reis é a escritora, cordelista e poeta Jarid Arraes. Em sua coleção Heroínas Negras na História do Brasil, ela apresenta, através da linguagem poética, a história da própria Maria Firmina dos Reis, dentre outras mulheres negras que fizeram história e construíram a História do Brasil.
É por isso que eu faço; No cordel a correção; Que conheça a Firmina; Um orgulho pra nação; E que espalhem sua obra Que desperta o coração (ARRAES, 2017).
No prefácio do compêndio, a convidada a escrevê-lo Jaqueline Gomes de Jesus, reitera que “com este belíssimo livro, Jarid Arraes contribui, de maneira extraordinária, para que resgatemos nossa memória: como mulheres negras, como pessoas negras, como brasileiras e brasileiros!” (ARRAES, 2020).
Mais um exemplo de como a literatura dá voz ao testemunho é Miriam Aparecida Alves, que integrou de 1980 a 1989 o coletivo Quilombhoje Literatura como responsável pela produção dos Cadernos Negros. Ela afirma: “comecei chorando, agora grito palavras e lágrimas, os soluços e as agulhas da opressão que ferem fundo minha pele negra”.
Em entrevista ofertada a Gláuks: Revista de Letras e Artes em julho de 2020, Miriam disse também que seu fazer literário tem viés na literatura negra brasileira, que se propõe a trazer para o cenário literário o protagonismo do cidadão negro brasileiro. Como fez Maria Firmina dos Reis, dentro dos limites de seu tempo.
Alinhadas a este mesmo cenário literário, estão as mineiras Ana Maria Gonçalves e Cidinha da Silva. A primeira é autora do romance Um defeito de cor. Nele, a História do negro no Brasil ocupa o centro da narrativa e rechaça o ponto de vista eurocêntrico da História convencional.
Esta biografia ficcional de Kehinde conquistou ainda o Prêmio Casa de Las Américas de 2006 como melhor romance do ano. Além de, através das vivências da personagem principal, Ana Maria Gonçalves tornar palpável ao leitor experiências cotidianas dos afrodescendentes no Brasil.
Já Cidinha da Silva, finalista do prêmio Jabuti em 2019, dialoga entre as tradições africanas, afro-brasileiras, afro-diaspóricas, afro-indígenas e a contemporaneidade. Colabora, como todas as intelectuais citadas, à sociedade com seus referenciais teóricos pautados nas relações étnico-raciais.
Suas obras abordam, além do racismo, temas referentes a desigualdades e Direitos Humanos. Em especial Um exú em Nova York, que incita questões como: relações de gênero, violências simbólicas, intolerância religiosa, marginalização e política higienista.
Similar a abordada política de branqueamento do século XIX, a politica higienista combatida por Cidinha da Silva diz respeito ao tratamento do Estado para com o povo negro durante o processo de urbanização das cidades.
Entender similaridades como essa, é sinônimo de reconhecer a existência de práticas escravistas que são perpetuadas até atualmente e nos fazem questionar quais espaços ocupam as mulheres negras nos dias de hoje.
Onde estão as mulheres negras?
Em 2003, a Lei 10.639/03 tornou obrigatório o ensino da História e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do Ensino Fundamental e Ensino Médio no Brasil. É importante avaliar seus efeitos representativos, já que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% da população brasileira é negra.
Apesar do regulamento, se analisarmos a questão através do âmbito da produção pedagógica, editorial e social, a mulher negra ainda está vinculada a uma figura de hiper sexualização e submissão. Larissa Pereira dos Santos Gomes aponta que no livro didático Oficina de História (2012), às mulheres negras aparecem em apenas 2,32% das imagens, o equivalente a 9 de 387 imagens com representações humanas.
A primeira imagem de uma mulher negra aparece somente na página 301 do livro, reprodução do quadro de Diogo Velázquez A empregada da cozinha e a ceia em Emaús (1617-1618). Nela, uma jovem utiliza vestes simples atrás de um balcão com utensílios de cozinha, que reforça o espaço de servidão destinado à mulher negra (GOMES, 2019).
A última imagem está na página 808, uma fotografia onde Michelle Obama aparece de costas (GOMES, 2019). Vale destacar que todas as pinturas selecionadas para estruturar o conteúdo do livro foram feitas a partir da observação de homens brancos e europeus. Assim como as fotografias ali presente também pertencem a homens brancos.
Resta reconhecer que o livro didático de Literatura do Ensino Fundamental e Médio se apresenta como importante elemento de divulgação de concepções culturais e visão de mundo. Os autores cumprem um papel fundamental nas escolhas ideológicas e, portanto, na imagem de mulher negra a ser ou não perpetuada. Por isso a importância de intelectuais como Miriam Aparecida Alves ou Cidinha da Silva não apenas no âmbito da produção textual.
Essas autoras, além da contribuição cientifica com a qual nos presenteiam, se apresentam como referência à milhares de jovens negros e negras do Brasil, expondo alternativas aos espaços que, de maneira simbólica, desde a educação básica se configura à eles(as).
Sobre o racismo retratado, Zahidé Lupinacci Muzart escreveu:
Maria Firmina dos Reis é mulata e tendo sofrido, seguramente, o preconceito racial vigente no Brasil, ainda assim escolhe o par romântico pertencente à etnia dominante. O racismo imperante é muito bem retratado em pinturas da época, além, naturalmente, de o ser na literatura (MUZART, 2014).
O par romântico citado, faz referência a construção dos personagens principais do livro Úrsula.
Conceição Evaristo, em artigo intitulado Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade, reflete sobre a produção e veiculação do texto literário negro, além de reconhecer importância dele na divulgação e representação legitima de nomes importantes, muitos ainda desconhecidos, da literatura afro-brasileira.
A estudiosa abraça a perspectiva de que representatividade, como expressão dos interesses de um grupo na figura do representante, é fator determinante na construção da identidade e subjetividade do indivíduo que compõe o grupo.
A título de exemplo, no mercado de trabalho, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada de 2016 (IPEA), mulheres brancas recebem 70% a mais que mulheres negras. Além disso, as mulheres representam 92% das pessoas ocupadas no trabalho doméstico no Brasil, das quais 65% são negras, mas recebem 20% a menos do que as não negras. Estes dados trazem à realidade as ilustrações dos livros didáticos.
Vale ressaltar que após a abolição, o governo não planejou e nem promoveu a inserção social do negro, que permaneceu marginalizado. Beatriz Nascimento reitera que a escravização também estabeleceu o lugar da mulher negra na hierarquia social do país, através da dinâmica do sistema econômico pós-abolição.
A professora Eunice Prudente, em coluna do Jornal USP, alerta que “é preciso estudos e pesquisas inter-relacionadas entre gênero, etnia e classe social, tendo em vista os índices da pobreza, como relatam os órgãos do governo, que mostrem a situação socioeconômica, a desigualdade social e a família negra. A mulher negra, na base dessa pirâmide, sofre uma tripla discriminação”. Tripla discriminação diz respeito ao fato de, neste cenário, a mulher negra ser: mulher, negra e podre.
Representatividade e legado
A festa literária internacional de Paraty (FLIP), evento de manifestação cultural que organiza trocas através de mesas literárias, promovendo a construção de novas visões de mundo, prestou homenagem a Maria Firmina dos Reis durante a edição de 2022.
Segundo texto publicado no site oficial do evento, “as personagens e narrativas memoráveis de Maria Firmina têm inspirado coletivos de leitura, professoras e autoras contemporâneas com sua linguagem, imagens e abordagens”.
Homenagens como essa são consequência da reflexão crítica sobre o mito da democracia racial, de políticas públicas que possibilitam a inserção de negros e indígenas nos centros de produção acadêmica e da utilização de literaturas negras como fonte de produção e ensino da História.
Ademais, apesar do abordado contexto desafiador, a crescente no número de autoras negras no catálogo de grandes, médias e pequenas casas editoriais é uma realidade, mas por demanda vertical.
As mídias sociais também se apresentam como fundamental na propagação de conteúdos independentes de mulheres negras e intelectuais, como Carla Akotirene, que além de pesquisadora extremamente relevante no movimento feminista interseccional, autora do livro Interseccionalidade, utiliza suas redes para escurecer fatos sobre temas diversos.
Em virtude do movimento negro, vivemos um renascimento dos estudos sobre, e construído pelas, mulheres negas no Brasil. Também a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística colaborou, através da linha de pesquisa “Mulher e Literatura”, realizando importante resgate em torno das escritoras do século XIX.
Zahidé Lupinacci ressalta que o crescimento de associações negras, organizações não-governamentais (ONG’s) e movimentos de resistência também deve ser considerado.
Ainda sobre o tema, no livro A fina lâmina da palavra, Leda Martins acrescenta:
A produção literária dos afrodescendentes encontra nas últimas décadas uma atenção mais singularizada por parte de escritores e críticos que buscam mapear uma tradição negra vernacular no âmbito da Literatura Brasileira, sublinhando o diverso leque de matizes e linhagens que traduzem a afrodescendência, caligrafada na e pela letra literária. A expansão do olhar sobre textos, autores, temas, situações e experiências, de certa forma até então exilados da reflexão crítica, dos meios e circuitos de veiculação e de reconhecimento, distende nossa cartografia literária e desafia as redes discursivas formadoras de juízo e de opinião (MARTINS, 2010).
Em conclusão, livros como o de Maria Firmina dos Reis foram resgatados e estudados como valiosos, pois são as primeiras manifestações de mulheres brasileiras.
No prólogo da primeira edição publicada de Úrsula, a autora maranhense escreveu:
Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados […] com uma instrução misérrima […] e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (ALMEIDA, 2004).
Firmina tinha nítida noção da importância da educação, vivências e oportunidades culturais, por isso teorizou e colocou em prática seus ideais, tornando-se inspiração às mulheres da atual geração. Seu legado é sinônimo de representatividade. Representatividade essa, determinante na formação de Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Jarid Arraes, Miriam Alves, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva e na ressurreição de tantas outras mulheres brasileiras enquanto protagonistas da História.