A doutora Ivete Previtalli, antropóloga e pesquisadora especialista em Populações Afro-Brasileiras, conversou com o Mulheres de Luta sobre a construção do candomblé no Brasil.
“Vai nascendo uma religião que é formada na senzala (…) Então ela nasce com essa questão política, essa divisão, e ela se transforma numa questão teológica. Ela deixa de ser política para ser teológica.”
A “questão política” ou “divisão” da qual Ivete Previtalli se refere encontra-se no cerne do processo escravocrata do Brasil. Aqui chegaram africanas e africanos de povos distintos, e para facilitar a dominação e o controle, eles eram separados e misturados a outros grupos, dificultando a comunicação entre eles, bem como a organização.
Mesmo tendo religiões distintas, esses povos tinham em comum uma visão religiosa ligada à natureza, e como reforça Ivete Previtalli, “as línguas são diferentes, mas a língua ritual é parecida, e aí as coisas começam a acontecer”.
É portanto a partir dessa divisão que o candomblé surge no Brasil. Como “questão política”, ele subverte a imposição da colônia, mas se torna teológica, uma vez que há a troca de saberes ancestrais e a construção de um novo saber a partir de hibridização.
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