A contribuição de Branca Moreira Alves para o movimento feminista no Brasil vai além das obras de sua autoria que discorrem sobre feminismo e as transformações sociais pelas quais o país passou ainda nos anos de chumbo. Sua história de vida está atrelada às pesquisas e trabalhos desenvolvidos na temática de gênero.
Em meados dos anos 1970 e nas décadas seguintes, Branca foi um componente importante na emancipação feminina no Brasil, sendo uma das pioneiras nos grupos de reflexões de mulheres ao lado de nomes como Hildete Pereira de Melo e Jacqueline Pitanguy. À época, nos encontros semanais com as demais mulheres, eram tratados temas como escritoras feministas, questões políticas e pessoais, como parte de um processo para o olhar de pertencimento social das mulheres e de conscientização.
Presidiu o Cedim-RJ (Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Rio de Janeiro) em 1987, e, mais tarde, em 1992, foi convidada pela ONU (Organização das Nações Unidas) a abrir o escritório do Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulher para o Brasil e o Cone Sul) em Brasília.
Graduada em História pela Universidade da Califórnia, Berkeley, e mestra em Ciência Política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), Branca ministrou aulas no Departamento de Economia da Universidade Cândido Mendes. Além de também ter atuado como promotora de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com a segunda graduação, em Direito. Apesar do vasto currículo, Branca se apresenta como “feminista”, pela militância que a acompanha há anos.
Um dos casos mais emblemáticos não só para a historiadora, mas para o movimento feminista no Brasil, se deu após o assassinato da socialite Angela Diniz, em 1976, após o crime [de feminicídio] ter sido tratado de forma machista pela imprensa, caracterizando Angela como uma pessoa “libertina”, virando os ventos da opinião pública à favor do Doca Júnior, então namorado da vítima. O caso foi um estopim para que o movimento feminista se organizasse como movimento social pelo país, com manifestações e articulações com governo e imprensa.
Para o podcast “Praia dos Ossos”, que narra o caso em áudio documentário, Branca disse que a reversão da ideia de que Angela havia provocado a própria morte foi algo simbólico, por retratar a forma como as mulheres são taxadas até os dias de hoje, a depender do estilo de vida. Ela foi marcada pelo discurso de Evandro Lins e Silva, no primeiro julgamento do Doca, “…você vê, na cabeça desses homens, aparece bonitinho a receita do patriarcado. É assim: dois ovos, não sei quantos de farinha, manteiga não sei quê, e você faz o bolo, e isso chama patriarcado”.
As experiências vividas por Branca em conjunto com os anos de pesquisa dedicados à temática de gênero podem ser conferidas em obras que a historiadora foi autora ou contribuição para suas elaborações. Como em “O Que É Feminismo”, onde é apresentado o desenho da presença da mulher na história diante das condições e suas lutas, buscando na história o registro de atuação das mulheres desde antes das primeiras ondas sufragistas no mundo até as lutas contemporâneas.
Já em “Ideologia e feminismo, a luta da mulher pelo voto no Brasil”, que foi publicado após apresentação à Iuperj para o título de mestre em Ciência Política, Branca expõe as nuances dos movimentos feministas, bem como os nomes que marcaram as lutas ao longo dos séculos.
Hoje, residindo em Minas Gerais, Branca nos presenteou com entrevista onde foi abordado temas ligados à primeira onda do Sufragismo Feminino no Brasil e a conquista dos votos das mulheres brasileiras.
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