“Quando não há, por exemplo, um suporte institucional, tecnológico e financeiro para o desenvolvimento de estratégias de adaptação no próprio território, para que essa comunidade seja fortalecida no enfrentamento a esses eventos ambientais, seja de início súbito, como inundação, seja de início lento, como é o caso das secas, isso afeta de forma muito agressiva a produtividade de vários territórios.”
Érika Pires Ramos
A doutora em Direito Internacional e pesquisadora do Observatório Latino-Americano sobre Mobilidade Humana, Mudança Climática e Desastres, MOVE-LAM, Érika Pires Ramos falou com o Mulheres de Luta sobre as causas relacionadas à mobilidade humana.
A pesquisadora salienta que são muitos os motivos que fomentam as migrações e entre esses fatores, há o componente de decisão, quando é possível decidir sobre esse movimento, e o componente forçoso, como processos de degradação ambiental que impedem a realização de atividades e desenvolvimento no local.
Entre os fatores que contribuem para que esse movimento migratório aconteça, Erika Pires Ramos destaca os fatores ambientais, que são influenciados por outros fatores. Além disso, eles ocorrem de forma diferente de acordo com os territórios ou grupos, afetando especialmente os grupos mais vulneráveis.
Transcrição da entrevista:
As causas elas são múltiplas, é muito importante a gente esclarecer em primeiro lugar, que a mobilidade humana que é como a gente designa essa dinâmica de movimento de população, ela acontece de várias formas de maneira com componente de decisão, quando é possível decidir sobre esse movimento que a gente chama de migração.
A meu ver é um pouco difícil a gente falar que a migração é voluntária, mas que tem um componente de decisão. O deslocamento quando existe esse componente forçoso nesse movimento, existem também situações que as comunidades elas vão precisar ser realocadas.
Porque o seu território há uma inviabilidade de permanência no território, seja pelo desaparecimento dele, e aí a gente tem um exemplo desses processos de degradação ambiental lenta como seca, desertificação, que vão dificultando a produtividade desses territórios.
E a possibilidade dessas comunidades realizarem suas atividades e se desenvolverem no local. Quando não há, por exemplo, um suporte institucional, tecnológico, financeiro para desenvolvimento de estratégias de adaptação no próprio território para que essa comunidade seja fortalecida no enfrentamento a esses eventos ambientais.
Seja de início súbito, como inundação, seja de início lento, como é o caso das secas que isso afeta de uma forma muito agressiva para produtividade de vários territórios. Então a gente tem além desses movimentos, migração, deslocamento, a realocação qualificada, a gente tem esses eventos que contribuem para que esses movimentos aconteçam.
Que são os fatores ambientais, aqui eu me refiro, gosto sempre me referi como um gatilhos ambientais, sem os quais essa população não se movimentaria, não teria que sair do seu local de origem, mas esse fator ambiental ele é influenciado por outros fatores também.
Tanto é que a gente costuma afirmar, isso é um consenso, que os eventos climáticos, as crises climáticas e ambientais elas afetam de forma diferente determinados territórios e determinados grupos, especialmente grupos que já são vulnerabilizados, do ponto de vista socioeconômico, ou do ponto de vista territorial, do ponto de vista social, étnicos, racial, de gênero.
Então a gente tem que pensar nessa temática da migração ambiental de uma maneira muito interseccional e transversal, que a gente tá lidando, além dos eventos ambientais, com desigualdades estruturais e com, muitas vezes, a falta de política públicas que já dificulta o acesso a essas populações, a direitos e serviços.
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