Dicas de documentários com temáticas feministas

O Tamanduá TV, streaming de obras audiovisuais com ênfase em documentários sobre arte, cultura, história e sociedade, traz em seu catálogo inúmeros documentários com temas relevantes para a sociedade.

Neste artigo selecionamos alguns dos documentários que abordam temas relacionados à mulher com conteúdos importantes à atualidade.

A vulnerabilidade das mulheres periféricas, as questões do aborto no Brasil, os problemas raciais e o resgate da ancestralidade, a ponte cultural entre Brasil e África, a luta contra a intolêrancia religiosa, as abordagens do sistema de saúde, a autonomia do corpo feminino e a atuação das mulheres no processo político do país são alguns dos temas pelos quais você irá passar ao assistir a esses documentários.

A questão do aborto no brasil

Entre os temas abordados está o aborto que, no Brasil, é crime com pena de 1 a 3 anos para a gestante, e de 1 a 4 anos para quem realizou a retirada do feto.

Ainda assim, muitas mulheres acabam recorrendo a clínicas ilegais. As mulheres que possuem mais dinheiro pagam por um serviço mais adequado, as que não possuem recursos financeiros, acabam se encontrando em locais sem nenhuma infra-estrutura, colocando em risco a sua própria vida.

Diante dessa situação algumas pessoas acham que o aborto deve continuar proibido, outras, que deve ser legalizado. Os argumentos são os mais variados, mas isso não muda o fato de que os abortos acontecem e que as mulheres mais abastadas fazem com maior segurança, enquanto as mulheres mais pobres estão morrendo, reforçando que esse é também um problema de saúde pública que se agrava cada vez mais.

Em “Meu Corpo, Minha Vida”, a diretora Helena Solberg aborda a questão do aborto no Brasil. Utilizando como pano de fundo o caso de Jandyra Magdalena dos Santos, o documentário coleta diversos depoimentos que refletem as mais variadas opiniões sobre o assunto, seja os que acham que o aborto deve ser descriminalizado e os que defendem a lei atual.

O caso Jandyra Magdalena dos Santos repercutiu na mídia nacional e internacional. Em 2014 ela faleceu ao realizar um aborto em uma clínica clandestina no Rio de Janeiro. 

Os problemas raciais no brasil

Os problemas raciais no Brasil se agravam à medida em que a sociedade atua tentando esquecer o passado. Há um passado que não aparece nos livros, um passado que não nos é contado nas escolas.

Quando estudamos a África na escola, parece que sua história começa com a escravidão. Sabemos que no continente berço da civilização, a história é muito mais antiga, mas a cultura africana no Brasil sofreu uma apagamento através do processo da escravidão.

O escudo da ilusória “democracia racial” não é mais capaz de esconder a realidade dos morros, a intolerância religiosa e a vulnerabilidade das mulheres negras e periféricas.

O Brasil se construiu sobre o apagamento da cultura das pessoas trazidas da África e dos nativos, e a intolerância religiosa é um desdobramento desse racismo cultural.

“Àkàrà, no fogo da Intolerância”, de 2020, é um documentário dirigido por Claudia Chávez que se une à luta contra a intolerância religiosa, especialmente com relação às religiões de matriz africana. O documentário aborda como o tema tem sido tratado pela política no Brasil e faz uma reflexão histórica da perspectiva de quem sofre a violência em decorrência da intolerância religiosa, bem como sua relação com o racismo.

Ôrí, de 1989, é um documentário de autoria e narração de Beatriz Nascimento e dirigido pela cineasta e socióloga Raquel Gerber. Ele aborda a relação entre o Brasil e a África, especialmente a partir dos movimentos negros ocorridos entre 1977 e 1988. O fio condutor da narrativa é a história de Beatriz Nascimento, e o “quilombo” é utilizado como ideia central em torno de discussões como a corporeidade do negro e a perda da sua imagem, a situação das mulheres negras no Brasil, e a atuação da comunidade negra e sua relação com a ancestralidade.

Beatriz Nascimento foi uma historiadora e ativista brasileira que se empenhou na luta pelos direitos humanos de mulheres negras e homens negros. Ela nasceu em Aracaju, Sergipe, em 1942. Em 1995, aos 52 anos, Beatriz Nascimento fazia mestrado em Comunicação Social na UFRJ quando foi assassinada. Ela tentou ajudar uma mulher que sofria violência doméstica, mas foi executada a tiros pelo seu agressor que já tinha passagem na polícia, e justificou o crime dizendo que Beatriz Nascimento não deveria ter se envolvido em sua vida privada. A morte brutal de Beatriz Nascimento não calou sua voz e a historiadora continua sendo uma grande influência nos estudos raciais do Brasil.

“Karingana – Licença para contar”, de 2018, foi dirigido por Mônica Monteiro. No documentário, acompanhamos Maria Bethânia levando seu ensaio poético à Moçambique, apresentando diversos trechos de obras da língua portuguesa. “Karingana” ainda traz depoimentos de  Mia Couto, José Agualusa e de diversos escritores de Moçambique e Angola. O documentário reforça a importância da literatura na resistência à colonização, retrata a conexão com idiomas nativos e tradições orais, e explora a influência de escritores brasileiros em Angola e Moçambique.

Outro documentário que passa pelos problemas sociais e raciais no Brasil é o documentário “Meninas”, de 2005, dirigido por Sandra Werneck. Ele acompanha ao longo de um ano a vida de três adolescentes grávidas, mostrando como essas jovens vivem nesse estado de vulnerabilidade.

O feminismo e os movimentos sociais

Desde o levante do movimento feminista muitas conquistas foram alcançadas, mas ainda há muito por vir.

Para começar, há uma dificuldade que ainda existe com relação à presença das mulheres em determinados postos de poder considerados mais masculinos, por exemplo. As mulheres nessa posição lidam com as atitudes sutis e corriqueiras que refletem como o machismo está incrustado em nossa sociedade.

Em casos mais evidentes desse machismo, vemos inúmeras mulheres que sofrem violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. O número de vítimas aumenta cada vez mais no Brasil, reforçando essa realidade.

A maneira de combater o machismo é entendendo onde ele aparece no nosso dia a dia, ampliando o debate, e adotando medidas para o combate dessas violências.

O feminismo combate o machismo, mas ele não é o seu oposto. O machismo faz parte de uma construção social que promove mecanismos para incentivar ou justificar atos de agressão e opressão contra a mulher. O Feminismo pretende a construção de uma sociedade em igualdade entre os gêneros.

Motivadas por esse pensamento muitas mulheres se dedicaram a lutar contra esse sistema e provocaram grandes revoluções.

“O Pessoal é Político”, de 2017, é um documentário dirigido por Vanessa de Araújo e Souza que aborda a Segunda Onda Feminista no Brasil, especialmente entre os anos de 1975 e 1985, período instituido pela ONU como a Década Internacional da Mulher. Contrariando a norma de que as mulheres nasceram para cuidar dos filhos e do lar, o documentário retrata diversas situações em que elas passaram a se politizar e a lutarem contra as estruturas sexistas de poder que reforçam os mais variados tipos de violência empregados contra a mulher na sociedade. O documentário mostra o legado que essas mulheres deixaram no combate ao machismo.

A diretora e roteirista carioca Sandra Werneck está nesta seleção também com o documentário “Mexeu com uma, Mexeu com Todas”, de 2017. A obra retoma o grito de protesto das mulheres que se espalhou pelo Brasil, tanto nas ruas como nas redes sociais. O documentário traz o depoimento de diversas mulheres que sofreram com essa violência, mostrando que, embora com avanços legais, elas ainda se encontram em situação de vulnerabilidade.

“Loucura Suburbana”, de 2019, com direção de Susane Worcman e Aída Marques, traz o Carnaval. Nessa história quem vivencia essa festa popular brasileira são os pacientes do Instituto Municipal Nise da Silveira. Onde antes havia isolamento e violência, agora, com samba-enredo, fantasias e adereços reina a dança e o fazer artístico. Histórias reais de pessoas que fizeram do Carnaval uma terapia, bem como de uma comunidade que passou a ver a doença mental de outra forma. O documentário também conta um pouco da história de Elisama, que é porta-bandeira do bloco há 16 anos, e de Elizângela, passista que como outras e outros teve a sua vida modificada pelo  Carnaval.

Documentários Biográficos na Tamanduá TV

“Libertem Angela Davis”, de Shola Lynch retrata a vida de Angela Davis. O documentário narra a trajetória da jovem professora universitária nascida no Alabama que virou símbolo de resistência e de defesa dos direitos humanos. 

Angela Davis, então professora de filosofia da Universidade da Califórnia em Los Angeles, foi demitida da universidade por pressão política e acusada injustamente de terrorismo, mas uma campanha de solidariedade internacional veio em defesa de sua inocência e libertação.

“Pagu” é um documentário de Mariana Lacerda e Cláudia Priscila. Ele narra a trajetória da escritora, jornalista e tradutora Patrícia Galvão (1910-1962), um dos nomes mais expressivos do modernismo brasileiro. A sua história é narrada por amigos e parentes, não como objetivo de construir uma biografia, mas sim de encontrar a criadora Pagu em sua atuação estética, literária e política.

“Clementina” foi dirigido por Ana Rieper e traz a história de Clementina de Jesus. O documentário faz um passeio pelas suas músicas trazendo também um pouco da história do samba em ritmo de batucada, bem como a força ancestral dos cantos religiosos. A voz inconfundível de Clementina de Jesus e seu repertório de musicas afro brasileiras trazem toda a força e o drama da condição dos negros no Brasil.

“Bruta Aventura em Versos”, com direção de Letícia Simões, retoma a obra de Ana Cristina Cesar, um dos principais nomes da literatura marginal dos anos 1970 no Rio. O documentário revisita a escritora a partir da apropriação de outros artistas sobre as suas obras. A originalidade de sua escrita se apresenta na dança de Marcia Rubin, no espetáculo de Paulo José e Ana Kutner e na poesia de Alice Sant´Anna. 

“Person”, de 2006, dirigido por Marina Person, tem como tema a investigação sobre o cineasta paulista Sérgio Person, pai de Marina. Embora o tema não seja relacionado à mulher, tudo se modifica porque quem executa o trajeto é a filha. Ela realiza entrevistas com amigos, familiares e pessoas que trabalharam com o cineasta, tentando descobrir mais do que datas e informações, mas a descoberta nessa trajetória é também sobre ela mesma.

Confira esses e outros documentários como temas relevantes à mulher no Tamanduá TV.