Divisão sexual do trabalho

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Os episódios da série A mulher e o mercado de trabalho, produzida pelas Mulheres de Luta em parceria com a Lascene Produções, estão disponíveis aqui no site.

Você já parou para pensar por que há uma disparidade entre o salário de homens e mulheres e entre mulheres e mães? Para algumas mulheres, ser mãe significa fazer sacrifícios, mas será que “abrir mão” da carreira profissional é sempre uma escolha pessoal ou é fruto de uma desigualdade de gênero?

No Brasil, apenas 35% das escolas oferecem ensino integral e dentre esse percentual, a maior parte concentra-se na rede privada, o que dificulta a reinserção da mulher no mercado de trabalho pós-maternidade.

O salário das mulheres que possuem filhos é ainda menor já que muitas acabam trabalhando apenas meio turno para estarem mais presentes em casa e cuidar do lar.

Além disso, sabemos que os homens ocupam um lugar privilegiado e raramente são questionados e cobrados socialmente quanto à responsabilidade de criar os filhos, sendo essa uma tarefa que recai em grande parte sobre a mulher.

Em países desenvolvidos como a Suécia e Finlândia existe a licença parental, realidade que parece estar longe do Brasil. Afastar-se do trabalho deveria ser uma escolha e não uma espécie de imposição. É aí que podemos falar sobre o termo imposto materno, usado para designar as múltiplas desvantagens da mulher em relação ao homem.

O episódio A Mulher no Mercado de Trabalho do Projeto Mulheres de Luta traz relatos potentes de diversas mulheres para discutir questões atuais que envolvem carreira e maternidade.

Transcrição do vídeo Divisão Sexual do Trabalho

Dra. Carla Rodrigues: “A libertação da mulher, a modificação da sua face no futuro, será em uma primeira etapa obtida pela generalização do trabalho feminino”. Mas é claro que ela estava falando de um tipo de mulher, as mulheres brancas, de classe média, escolarizadas, primeiro reivindicam a entrada nas universidades e depois reivindicam a entrada no mercado de trabalho.

Mas as mulheres negras e pobres, nunca precisaram reivindicar o direito ao trabalho, elas sempre tiveram o que trabalhar.

Dra. Lena Lavinas: Fazer um panorama retrospectivo do que foram esses últimos 40 anos, talvez permita a gente enfatizar dois aspectos que eu acho que foram muito importantes: o primeiro é a entrada massiva no mercado de trabalho, que ocorre a partir dos anos 60, muito em função, primeiro, do surgimento da pílula, onde as mulheres passam, portanto, a controlar a sua sexualidade.

A gente observa no mundo inteiro e também no Brasil uma redução muito acentuada da taxa de fecundidade, então isso mudou as famílias, mudou o lugar das mulheres na divisão sexual e social do trabalho, foi também a partir dos anos 60 que a gente tem o aumento da escolaridade média e que foi muito favorável às mulheres, as mulheres têm um desempenho melhor que os homens, também contribuiu para essa mudança e essa grande inserção, essa inserção em massa das mulheres no mercado de trabalho.

Dra. Helena Hirata: Em porcentagem as mulheres têm mais educação do que os homens e o paradoxo é que elas, embora tenham mais possibilidade do que os homens em termo de educação escolar, diplomas, etc., elas no mercado de trabalho têm menos salário, são mais discriminadas, trabalham em menos profissões, tem menos possibilidade de trabalhar em diversidade grande de profissões como os homens.

Elas são sempre naquelas pequenas profissões mal pagas de mulheres, que é professora primária, trabalham no setor de saúde como auxiliar de enfermagem, então tem poucas profissões em que as mulheres estão maciçamente e ganhando pouco, enquanto os homens têm mais escolhas profissionais, o âmbito maior de escolhas profissionais e eles tem menos essa necessidade de ficar restrito ao um pequeno número de profissões mal pagas.

Joice Soares: A gente ainda tem carreiras com predominância muito maiores de mulheres do que de homens, o núcleo das ciências duras, digamos assim, engenharias, exatas, embora aumentando nos últimos anos, eu acho que isso é significativo.

As pesquisas mostram que as mulheres estão ingressando mais, mas ainda é muito menor o número de mulheres do que de homens em determinadas carreias e muito maior o número de mulheres nas carreiras que tradicionalmente são conferidas à mulher. Um exemplo, a gente pega os números de mulheres no ingresso no curso de pedagogia, quase 90% dos estudantes de pedagogia são mulheres e outras carreiras vinculadas à engenharia, por exemplo, você não consegue ter nem a metade disso.

Dra. Hildete Pereira de Melo: As mulheres escolhem as atividades que estão próximas ao que elas foram educadas, que foi para cuidar, então escolhe as carreiras dos cuidados e essas carreiras são as mais desvalorizadas, enfermagem, professora, psicóloga, assistente social, mas por que as atividades que permitem que a vida seja preservada e continuada são mal pagas? É porque é atividade de mulher, é a invisibilidade que cerca o trabalho feminino.

Dra. Lena Lavinas: Para você ter uma ideia em todos os países do mundo, no setor público a ocupação é majoritariamente feminina, porque é justamente algo que é mais seguro, as mulheres fazem o concurso, elas têm o melhor desempenho nos concursos. Ademais, dentre as atividades mais precárias eu também tenho uma maioria de mulheres.

Dra. Helena Hirata: Uma profissão em que você poderia ter maiores salários que são as profissões liberais, advogado, juiz, professor universitário, dentista, então todas essas profissões são bem feminizada, mas por exemplo um cirurgião, que é uma profissão médica que ganha mais, os cirurgiões são majoritariamente homens, minoritariamente mulheres.

Quando você vai ver profissões médicas, como por exemplo pedicuro, como por exemplo dermatologista, como por exemplo ginecologista, aí você vai ter uma maioria da profissão que é constituída de mulheres e são as profissões que são menos bem pagas em relação à, por exemplo neurologista, médicos, etc.

Dra. Lena Lavinas: O setor industrial é o setor que melhor remunera, setor que pior remuneram são os serviços e o comércio, porque, enfim, justamente tem mais rotatividade, mão de obra é menos preparada. Você para ir para o setor industrial, você tem que ter tido uma formação mais técnica e os salários lá são mais altos.

As mulheres nunca tiveram uma grande representatividade no setor industrial, elas são majoritárias no setor de serviços, onde tem muita prestação de serviço à família, a individuo, a pessoa física, não é só prestação de serviços as empresas, onde também a participação das mulheres é menor.

Elas completamente ausentes no setor, que surpreendente, é o setor de transporte, porque, afinal de contas, hoje em dia todo mundo dirige. Tem outros setores, como o setor de alta tecnologia, onde a participação das mulheres também é pequena.

Eu como tenho uma filha engenheira, que trabalha no setor de TI, eu acho o que explica isso um pouco é própria trajetória universitária educacional, porque tem entrado mulheres, mas realmente é um setor tão sexuado, é um lugar onde tem tanto homem, que eu lembro que minha filha quando estava no segundo ano, falou assim para mim: “eu acho que vou mudar, porque são 5 meninas para 45 meninos”, então é um ambiente difícil de você conviver com ele.

Espaços muito sexuados, ou só de homens, ou só de mulheres, evidentemente onde a mixidade é baixo, de um lado ou para o outro, eles são muito áridos para a presença das mulheres, porque evidentemente existe a prática do assédio que é muito disseminada, o sexíssimo é uma prática que também corre nas ruas que é um lugar comum.

Então não parece, mas eu acho que essas coisas inibem um pouco a presença de mulheres, a gente ver isso até na universidade, como professora de universidade eu vejo, apesar da grande presença de meninas na universidade, elas se voltam mais para uns setores do que para outros, eu acho que não é em função de suas habilidades, eu acho que é talvez por desconhecimento das atividades, da carreira que você pode desenvolver em determinado setor e depois pela questão da baixa mixidade, eu acho que a baixa mixidade é um freio para a entrada de mulheres.

Dra. Cecília Salgado: Se você fala para uma menina que vai vir aqui hoje um médico, um engenheiro, uma pessoa engenheira, uma pessoa médica, uma pessoa que seja astronauta, ela vai esperar que seja um cara, então isso já está na nossa mente, você não vai esperar que venha uma moça, enfim, uma engenheira têm explicar uma coisa difícil, sobre construção, então está tudo nessa falta de exemplos, eu acho que por conta disso é fundamental a gente ter exemplos.

Você vai olhar para educação infantil, na idade de 1 ano até 6, 7, ela é feminina, então eu acho que isso já vai lavando a cabeça desde os 2 anos de idade, você bota o seu filho e ele só ver lá “ela vem, toma conta de mim, a tia”, ter alguém que tome conta de você é muito legal, mas também é bom ter um cara, ter um home para você entender que esse amor também vem de homem.

Enfim, eu acho que essa falta de exemplo em vários ramos da sociedade é uma grande culpada também pela essa falta de depois mais adiante de matemáticas, engenheiras.

Dra. Carla Rodrigues: Nós fomos, nós temos sido, historicamente, educadas de uma certa forma, enquanto homens têm sido educados de outra certa forma.

Iara Amora: então a gente pode pegar desde as brincadeiras, as meninas recebem os utensílios de casa em geral como brinquedo, aí sendo passado como sendo uma coisa super emocionante para as meninas, que o bebê troca fralda, enquanto as brincadeiras dos meninos são muito mais coletiva, desde o futebol, a ficar na rua. Quando a gente vai crescendo isso vai continuando.

Então as meninas são colocadas para fazer as tarefas dentro de casa, para cuidar de um irmão ou das irmãs mais novas, de um primo, de uma prima. Enquanto menino vai sempre sendo deixado de lado nesse universo. Então assim, quando a gente fica mais velha vem dizer para gente, “vocês têm o dom”.

Viviane Lajter Segal: Culturalmente falando a mulher nasceu, ela existe para ser mãe, para ser dona da casa, isso lá atrás, antes de toda revolução, enfim, só que isso, apesar de muita coisa tem mudado, a mulher ter conquistado muita coisa fora de casa, parece que essa obrigação continua existindo dentro de casa.

Dra. Helena Hirata: Eu acho que não existe uma coisa que as mulheres já nascem sendo mães, nascem com o instinto materno, nascem para fazer certo tipo de trabalho que o homem não nasce para fazer, etc., tudo isso ao meu ver é um resultado de uma construção social, isto é, a escola, a família, as mídias, os jornais, as televisões, tudo isso constrói uma identidade masculina e uma identidade feminina que faz com que a mulher seja vista aquela que deve cuidar da casa, dos filhos, do universo doméstico, etc., mas isso é uma construção, não é uma coisa que você nasce mãe, nasce com vontade de cuidar da casa, nasce com vontade de fazer comida, nasce com vontade de fazer tudo isso por amor, etc., para mim isso é um estereótipo.

Marcela Pavan: Eu acho que tem essa coisa do pensamento machista, tanto dos homens, como das próprias mulheres, às vezes, a gente acaba internalizando isso, achando isso normal, aí alguém levanta e “não, isso não é normal”, aí começa a questionar.

Antonia Vicente Rosa: Porque um homem não pode lavar uma louça, porque eles isso é coisa para mulher, não pode passar porque é coisa de mulher. Então fica essa coisa assim, a mulher fica sobrecarregada, o serviço de lavar, passar é todo da mulher, então isso impede ela de muitas coisas, impede dela até ter um divertimento, porque cansa também serviço doméstico.

Marcela Pavan: Então assim, tem essa coisa: “a mulher tem que chegar em casa, te que está pronta, a casa tem que está limpa, e tem que ser assim”, meu lugar é o lugar de trazer dinheiro para casa e é assim que tem que ser.
Cledeneuza Bezerra: cuidar de menino pequeno, cuidar de casa, cuidar da roça, cuidar de quebrar o coco para poder ter o azeite para limpar, temperar, para fazer o sabão, para vender, para ter o café, ter o açúcar, não contava tanto com ajuda do marido não.

Heloísa Salles: Minha casa sempre fui eu, era raro os momentos em que ele me ajudava de alguma forma e era sempre colocado como uma coisa excepcional, “não é minha obrigação, mas eu estou fazendo, a obrigação é da mulher”.

Quem é que leva os pais mais idosos para o médico, quem é que sai, quem é que mais falta? Em casa, por exemplo, a criança fica doente, ou um pai, ou alguém fica doente tem que levar para uma consulta médica? São as mulheres que se sacrificam.

Elizabeth de Oliveira: O homem agora que ele está entrando, “não, deixa que eu faço a comida, deixa que eu ponho uma mesa, não, deixa que eu boto a criança para dormir”. Eu acho que ainda a tarefa do homem com relação ao filho, ele é muito mais daquela parte do emocional de brincar, de dá amor, do que de cuidar, o cuidar o banho, de colocar para dormir, dá um remédio, isso cai para a mulher, porque a mulher tem isso de cuidar de alguma coisa.

Maira Franca: historicamente o que levou o aumento da participação feminina foram inovações tecnológicas que reduzem o tempo de trabalho doméstico, eletrodoméstico principalmente e os arranjos de cuidados que são as creches, as familiares também, mas muito na concepção de que a mulher cuida do trabalho doméstico e o homem vai para o mercado de trabalho.

Então o que possibilitou aumentar a participação feminina foi justamente a redução do tempo do trabalho doméstico em casa, então para aumentar ainda mais a participação feminina no mercado de trabalho teria que mudar um pouco esse conceito de que a mulher é responsável pelo trabalho doméstico e o home é provedor.

Dra. Helena Hirata: Existe uma divisão sexual do trabalho que é bastante constrangedor porque faz com que as mulheres tenham que se encarregar de toda uma série de tarefas e de que os homens estão dispensados e eles estão dispensados pela sociedade, a sociedade acha justo que as mulheres cuidem da casa, das crianças, de tudo ao que se refere ao universo doméstico e que os homens fiquem trabalhando, fazendo o que se deve fazer ao nível do trabalho profissional.

Só que existe uma grade assimetria porque as mulheres estão trabalhando atualmente no mercado de trabalho, elas têm um trabalho fora de casa e ao mesmo tempo tem o trabalho doméstico, enquanto que os homens é muito assimétrico porque eles tem o trabalho fora de casa como as mulheres, mas eles não tem como as mulheres o exercício de todas as tarefas domésticas.

Gabriela Monteiro: É importante pensar quando a gente vai pensar no rural, que o trabalho não é aquela coisa que a mulher sai de casa para fazer, é aquilo que acontece, na verdade, o tempo todo, ela está ali aí vai dá o banho no menino, as vezes uma água que ela usou para dá de beber ao animal e depois ela já usa aquela água ali para aguar a horta dela.
Tudo isso acontece no entorno de casa, acontece dentro de casa. Então é difícil você até contabilizar qual o período dessa jornada de trabalho, essa jornada de trabalho é muito intensa, não tem que ser só responsabilidade só das mulheres.

O trabalho de educação das crianças, de cuidados com as crianças é algo que a gente luta muito para que seja transformado, porque se não for isso fica difícil você garantir a participação política, da autonomia, ao uma vida digna para as mulheres.

Cledeneuza Bezerra: A questão do laboro de casa, nós que somos as coordenadoras, sai de casa, deixa casa, o marido não ajuda muito não, se não tiver já um filho grande, uma filha para cuidar da casa, quando a gente chega é só deixando a mala e cuidando de limpar casa, de fazer comida, de lavar roupa, de tudo, então a nossa jornada é dobrada.

Dra. Cecília Salgado: Você quer se dedicar e você tem uma jornada dupla, você chega em casa e é esperado que você arrume, que você esteja linda, que você varre o chão, bote teus filhos na cama, dá janta, prepara mochila, é espera isso tudo, e aí você quer fazer uma coisa que não seja limitada das nove até as cinco da tarde, como ciência que você não faz das nove até as três, quatro, cinco que seja.

Você está com aquilo o tempo todo na sua mente, você tem que ter um tempo livre, você tem que ter uma coisa de descanso mental para ter ideias e se você está ali, está aqui e não para, você não vai ter isso, isso vai te faltar.

Adriana Ramos Costa: Acredito que a vida da mulher profissional ela é marcada por diversas interrupções, interrupções porque acredita-se que a maternidade, um filho é de responsabilidade da mulher, acredita-se que o serviço doméstico é de responsabilidade da mulher, então a mulher ela é atravessada por umas séries de outras responsabilidades que não apenas ali o seu compromisso com a vida profissional.

Então quantas vezes a gente já não ouviu dizer, “ah, eu tenho um marido que é muito legal, ele e ajuda tanto no trabalho doméstico, ah, eu tenho muita sorte porque meu marido me ajuda com as crianças”, isso eu acho que reforça essa cultura machista, essa cultura patriarcal em que cabe a mulher a responsabilidade de tudo aquilo que ligado ao doméstico e isso muitas vezes faz com que ela não tenha como se dedicar ao trabalho, que é um dificultador na ascensão da carreira.

Leda Boger: Ainda na nossa sociedade tem uma questão machista pode-se dizer que geralmente um casal está em condições teoricamente de igualdade, cada um tem o seu emprego, e surge uma oportunidade de promoção para um dos dois, ou uma oportunidade de viajar, de morar em outro pais, normalmente, não vou te dizer que isso é sempre, mas via de regra, o homem é priorizado, “não, vamos cuidar da carreira dele primeiro, deixa a formação dele primeiro”. Ele tem as escolhas dele e a mulher acompanha.

Dificilmente em alguns casais você já ver uma igualdade mais legal, mas até nos afazeres domésticos, a gente ainda está discutindo muito isso, qual é o papel do homem? é de ajudar? Não, meu marido não me ajuda, ele faz a parte dele, se nós dois trabalhamos e nós dois moramos em uma casa que pertence aos dois, as atividades domésticas são de nós dois, não é que ele está me ajudando e ele é legal, bonzinho e ele é bacana, ele está fazendo o papel dele.

Fernanda Paes Leme: a palavra que mais me irrita em relação a parentalidade é a ajuda, mas eu te ajudo como assim? Se você me ajuda, você está querendo dizer que a responsabilidade é minha e que você faz o que você pode e quando você pode, não, a responsabilidade é de ambos.
Dra. Cecília Salgado: Tenho várias amigas que falam: “poxa, mas ele te ajuda”, ajuda não, a gente faz metade/metade, nós somos parceiros, a gente vive com dois filhos que são nossos, então eu acho muito natural que a gente se ocupe de maneira igual às coisas, ele também acha isso muito natural.

Então nunca foi dito: “olha, você vai fazer isso e você vai fazer aquilo”, as coisas vão acontecendo no que da naquele momento, o outro dá mais em uma certa hora, tem horas que eu estou com workshop, palestras, etc., aula, prova e ele assume mais, tem horas que ele que também faz matemática está muito ocupado e eu assumo muito mais em casa. Eu ainda escuto muito você tem muita sorte, ele te ajuda, talvez eu tenha sorte porque o resto não faz isso, mas e ele será que ele não tem sorte?

Quando é que a gente vai mudar as cabeças, eu acho que as mulheres mudaram muito, a gente refez o mundo, em 35, 40 anos, eu sou a primeira geração, minha mãe era dona de casa, eu sou a primeira geração que foi para a universidade que teve uma carreira, que fez escolhas, que pode se separa com dignidade, como opção, “21:42”, e onde a gente toca a vida, toca a vida em função das suas escolhas, com liberdade, com responsabilidade, isso é algo que não tem retorno, isso não vai haver retrocesso histórico nessa direção.

Mas é preciso que os homens mudem, é preciso que a relação com a mulher muda e eu acho que aí que onde a gente ainda tem muito caminho pela frente.

Iara Amora: Eu enquanto mulher feminista, que trabalho na CANTRA, agora com filho e isso vem o desafio como é que coloco isso em prática também, o que eu vou tentar fazer, acho que a gente pode tentar fazer pelas crianças, apresentar ao mundo sem apresentar essa divisão de menino e menina, apresentar e ver o que ele gosta, ele vai gostar de que, de desenhar, de dançar, de um esporte, vai gostar de cozinhar, se determinadas coisas nunca foram oferecidas para ele, as aptidões dele, os gostos também vão sendo desde cedo trabalhado, você pode ter bola, você pode ter fogão, ele pode ter roupa rosa, eu gostaria muito que ele aprendesse isso.

Que o mundo não tem que ser dividido, o mundo não é dividido, o mundo é de todo mundo, que a gente tem que partilhar as tarefas de casa que são coisas que os seres humanos dependem para sobreviver, fazer comida, lavar suas roupas, cuidar do espaço que você vive, limpar o espaço que você vive, isso não tem nada a ver com sexo, tem nada a ver com seu gênero, isso tem a ver com coisas que toda sociedade depende para sobreviver, então todo mundo tem que saber fazer isso, homens e mulheres, então isso são coisas que eu pretendo, que eu estou tentando trilhar para que ele possa ir aprendendo.