Frente feminina no mercado da cannabis

maconha medicinal

“Existe essa abertura do mercado da cannabis para as mulheres. Eu sinto que mais no começo do desenvolvimento de um mercado, depois tende a diminuir o número de mulheres em posições de liderança. Existe um paternalismo estrutural que a gente não consegue se desvencilhar, independente da cannabis ou não.”

Carolina Nocetti

Carolina Nocetti falou ao Mulheres de Luta sobre a Frente Feminina no mercado da Cannabis. A médica e pesquisadora observou que entre os anos de 2014 e 2015, nos Estados Unidos, era mais comum haverem mulheres em posições de liderança na indústria da cannabis, mas isso acabou se diluindo, possivelmente à medida em que os processos de industrialização foram aprimorados.

A doutora relembra que existe uma relação de empatia das mulheres em torno da cannabis. Culturalmente, são as mães que mais se envolvem pelo bem estar da família, e assim uma rede de mulheres passa a ser formada.

Conforme o mercado da cannabis se expande, ele tende a adotar um modelo mais paternalista. Isso nos faz refletir sobre a presença da mulher nesse mercado, pois como reforça a fundadora do Interdoc:

“Existe a formação de uma rede entre as mães, muito forte. Foram as mães que começaram tudo isso no Brasil. Elas são leoas. Elas não param por nada.”

Carolina Nocetti

Transcrição da entrevista

Existe essa abertura do mercado da cannabis para as mulheres, eu sinto que mais no começo do desenvolvimento de um mercado, depois tende a diminuir o número de mulheres em posições de liderança.

Existe um paternalismo estrutural que a gente não consegue se desvencilhar, independente da cannabis ou não, mas nos Estados Unidos a cannabis é um dos grandes mercados que mais contrata mulheres imigrantes. Existia lá em 2014, 2015 uma grande presença de mulheres em posições de liderança.

Hoje já não vejo mais isso. A mesma coisa com a cannabis, eu via mais mulheres, mas com o tempo o mercado foi desenvolvendo e as mulheres acabaram sendo diluídas não é que elas saíram das posições que elas estavam, muitas continuam, mas novas empresas foram entrando com um número maior de homens e acabou perdendo um número maior de mulheres.

Eu acho que na cannabis, em especial, tem essa questão da empatia, acho que as mulheres, pra gente está falando de saúde, de sofrimento, de pessoas doentes, culturalmente a mulher é um pouco mais sensível, não é que os homens sejam e que só a mulher seja sensível, não é isso, mas que existe uma questão cultural também de que as mulheres têm contato maior com isso.

A cannabis, ela traz uma possibilidade de qualidade de vida, que muitas as mulheres estão mais abertas a conversar, também não é exclusivo, mas também acontece com certa frequência de separação de casais quando o filho é especial.

Existe a possibilidade do marido abandonar a esposa e considerando isso as esposas ficam sozinha, veem o potencial, veem que sua vida foi melhorada, que a maioria de seus filhos foram melhoradas com a cannabis e elas se sentem compelidos a trazer o mesmo alívio para outros familiares, a aí entra também é outra parte da empatia.

Eu estou fazendo aqui em casa para mim, eu tenho uma seringa a mais, eu pego doou, a próxima vez a pessoa vai querer pagar, porque não vai se sentir à vontade, ou então no próximo mês eu vou fazer um pouco a mais, faz duas a mais, começa a distribuir para quem está perto.

Então existe muito mais uma formação de uma rede entre as mães, muito forte, foram as mães que começaram tudo isso no Brasil. Elas são leoas. Elas não param por nada e não tem governo, não tem CEP diferente, não tem avião, não tem nada que impedir delas usarem o que elas queriam usar para as crianças para obter o seu alívio.

Então muitas delas quando conversavam, em 2013/2014, estavam fazendo tráfico internacional de drogas e não estavam nem aí, estavam aí com as crianças que estavam sofrendo. Então sim, no começo eu vejo essa tendência de um número maior de mulheres em operações e depois eu vejo uma diluição, à medida que os anos vão passando essas operações em novos mercados.