Heloísa Pires Lima é uma premiada escritora de livros.
Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP) e mestre e doutora em Antropologia Social, com foco nas representações culturais, também pela USP.
Na ausência de obras de literatura brasileira que representam os povos afrodescendentes e, principalmente, heróis mirins os quais servem para a representação das crianças pretas, Heloísa Pires Lima passa a se dedicar a essa temática.
Sua obra literária é vasta e a mais conhecida é Histórias da Preta, publicada em 1998, a qual recebeu os prêmios José Cabassa e Adolfo Aizen da União Brasileira dos Escritores (UBE), além de outros destaques.
Alguns de seus títulos são: O espelho dourado (2003); A semente que veio da África, em coautoria com Georges Gneka e Mário Lemos (2005); Benjamin, o filho da felicidade (2007); O comedor de nuvens (2009); Lendas da África Moderna, em coautoria com Rosa Maria Tavares Andrade (2010); O marimbondo do quilombo (2010), Toques do griô, em coautoria com Leila Leite Hernandez (2011); O fio d’água do quilombo: uma narrativa do Zambeze no Amazonas em coautoria com Willivane Ferreira de Melo e Águida Maria Araújo de Vasconcelos ( 2012); O pescador de histórias (2013), O coração do baobá (2014) e Quilombololando (2016).
A escritora contou em uma recente entrevista, concedida em 19 de junho de 2020 à Revista Crioula que: “[…] Um dia eu fiquei horas olhando a abóbora plantada por meu pai no quintal de casa, tentando descobrir como ela poderia virar uma carruagem como no conto que acabara de ler […]”. Esse fato curioso mostra como as crianças enxergam os acontecimentos da literatura como possíveis, mesmo quando são surreais e os relaciona à realidade que está ao seu redor.
A autora disse ainda que foi inspirada em sua juventude por famosos livros e autores da literatura brasileira como Iracema, de José de Alencar, Vidas Secas, de Graciliano Ramos e Machado de Assis. Graciliano com sua linguagem seca retratou a caatinga, levando-a para o interior da autora. Já Machado foi capaz de desnudar a sua alma, exibindo-a sem pudor.
Desse modo, percebemos que a relação da escritora com a literatura começou na infância, com a imaginação de menina e a magia literária se enlaçando e fazendo-a se questionar como aquilo poderia acontecer. Posteriormente na sua juventude, diferentes estilos e autores a impactaram, colaborando para seu futuro projeto literário.
É essencial destacar que foi como educadora infantil que Heloísa percebeu a ausência da representação afro-cultural no meio literário, e inspirada no livro Histórias de Índio (1997) do autor Daniel Mundukuru, de etnia indígena, escreveu o livro Histórias da Preta (1998).
Essa obra trouxe o protagonismo da menina preta, representando inúmeras meninas que não estavam acostumadas a encontrar personagens femininas negras nos livros da época, sem que tivessem passado por um processo de branqueamento. Além disso, esse livro recuperou os elementos da cultura africana, incorporando-os à identidade afro-brasileira.
Autores como Heloísa Pires Lima são essenciais para a educação e empoderamento das crianças de hoje e das próximas gerações. A literatura cumpre seu papel eternizando histórias e criando heróis, mas também, moldando caráter, trazendo conhecimento, fortalecendo relações, bases para o desenvolvimento de uma sociedade mais tolerante.
As crianças sentem que são capazes quando têm exemplos para seguir. Meninas são encorajadas a seguirem seus objetivos quando veem outras mulheres parecidas alcançando seus sonhos.
Da mesma forma que a escritora Heloísa Pires Lima foi impactada por Iracema, Machado de Assis ou imaginou como a abóbora de seu pai viraria uma carruagem, sua personagem Preta impactou a vida de inúmeras meninas que mal sabiam sobre as próprias origens e as ensinou que elas são diferentes do padrão imposto, o que significa que são dignas e possuem a sua cultura, beleza e tradição.
Portanto, é através da literatura, que autores como a Heloísa Pires Lima, conseguem tocar nas emoções, dúvidas e inseguranças de incontáveis crianças, mostrando que o mundo da fantasia pode ser levado para a realidade e que apesar do mundo real ser mais complicado, elas não precisam se ajustar, mas se valorizar, buscando em si mesmas e nas suas raízes culturais um caminho para serem heroínas da própria história.
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