Iansã, a Guerreira
Neste artigo falaremos sobre Iansã, sua força, determinação e sabedoria.
Yabá dos ventos e tempestades, movimenta-se ora suave, ora arrebatador. É fiel às suas convicções. Uma guerreira que não foge às batalhas.
Conhecer essa deusa causa impacto e muita admiração em função de seu poder.
Origem de Iansã
Filha de Iemanjá com Oxalá, Iansã é irmã de Oxum, Obá e Oxóssi. Seu nome tem origem iorubá, sendo a contração da frase “Iyá omo mésàn” que significa mãe de nove filhos. Pois seu desejo pela maternidade era tão intenso que lhe foi concedido gerar nove herdeiros.
Iansã também é largamente conhecida como Oiá, nome que deriva de um rio que corre na região da Nigéria e denominado Odó Oiá.
Oiá é aquela que transporta os humanos após a morte. Ela recebeu essa função de seu amigo Obaluaê, senhor da terra, da morte e da cura. Ela é a responsável por levar o espírito desencarnado de Aiyê (terra) para o Orum (céu ou mundo dos encantados). É Iansã que permite que os eguguns (espírito de pessoas mortas) caminhem entre os vivos, podendo até mesmo serem vistos e cultuados.
Rainha do tempo
Iansã possui o domínio das tempestades e dos fenômenos climáticos, ela controla os ventos, as chuvas e os trovões. Por isso, durante as grandes chuvas, é muito propício a saudação para a deusa guerreira. Ela, porém, não possui o controle sobre os raios, já que esse elemento pertence ao seu esposo Xangô.
Os amores de Iansã
Iansã tem dois maridos, um deles é Ogum, o caçador. Um dia ele estava na mata caçando quando avistou um búfalo e preparou-se para atacá-lo. Antes, porém, ele ficou observando de longe até perceber que o animal parou. Em seguida, abaixou a cabeça e se despiu da pele que usava. De dentro dessa saiu uma linda e graciosa mulher, era a deusa guerreira, que enrolou as peles do animal junto com seus chifres e escondeu dentro de um formigueiro.
Depois que Iansã saiu caminhando em direção ao mercado, Ogum pegou suas roupas de búfalo, escondeu e foi encontrá-la. Ele ficou encantadíssimo com sua beleza e suntuosidade. Ela era maravilhosa, tinha vários adornos, como braceletes e colares, além disso, usava um turbante magnífico. Ogum não resistiu e a pediu em casamento, embora ela não tenha aceitado de primeira, acabou cedendo e se casando com o orixá guerreiro.
Eles se davam muito bem, afinal, Ogum é o senhor dos metais. E, assim como Iansã, têm uma relação muito próxima com a guerra. Ambos trabalhavam juntos na forja fabricando as ferramentas que ajudariam na construção do mundo.
Certa vez, Iansã e Ogum estavam forjando metais, quando Xangô foi até seu irmão a fim de encomendar armas para a guerra. Chegando lá, Xangô viu Iansã e ficou perdidamente apaixonado por ela, foi então que os dois ficaram juntos, e Iansã se tornou a rainha da coroa de Xangô.
Iansã era a esposa preferida de Xangô, eles se davam muito bem e costumavam trabalhar em equipe. Ele é o senhor da justiça e ela rainha do clima.
Iansã enviava seus ventos para limpar o mundo após as guerras, bem como também os trovões para anunciar que os raios pertencentes a Xangô estavam próximos de chegar.
Oiá aprendeu muito sobre a guerra com esses dois orixás, Ogum e Xangô. Por isso tornou-se uma Yabá obstinada que nada teme, nem mesmo a guerra. Ela sempre acompanha os guerreiros nas batalhas pois não nasceu para ficar em casa.
O ebó de Iansã
Quem desejar agradar a deusa deve lhe ofertar cabras, abará e acarajé – bolinho feito de feijão fradinho e frito no azeite de dendê, conhecido em diversas regiões da África como áráká -. Outro alimento que pertence à orixá guerreira é o bolinho de fogo de Iansã. Em contrapartida, em hipótese nenhuma, deve-se ofertar abóbora nem carne de carneiro.
Os símbolos e a saudação para Iansã
Como toda grande guerreira, Iansã tem entre seus símbolos uma espada, que usa para guerrear e se proteger. Também usa um eruexin, instrumento confeccionado a partir do rabo de animais como búfalo ou boi. Esse instrumento é uma espécie de abanador com o qual ela movimenta os ventos, controlando o mundo dos mortos e dos vivos. Com ele, afasta os Eguns, isto é, os espíritos desencarnados. A senhora da guerra carrega, em sua cintura, um chifre de búfalo, animal no qual se transforma.
A saudação dirigida à rainha das ventanias e das tempestades é Epa Heyi Oiá, que é a mesma coisa de dizer: “Olá, Iansã” ou “oi, Iansã”. Suas cores são o vermelho, marrom, amarelo e o rosa, suas contas são de cores amarela e vermelha.
Entre a luta e a dança
Quando dança, a yabá traduz a leveza dos ventos nos pés, seus passos são guiados pelo balançar da brisa que ela controla. Oiá é a mais ligeira entre os orixás, ao dançar ela coloca as mãos para trás, na altura do quadril, enquanto se movimenta pelo espaço de maneira rápida e perspicaz, lembrando a força e poder das tempestades. Evidenciando a guerra, os passos empregados nas coreografias para Iansã simulam o movimento das lutas e batalhas.
As filhas e os filhos de Iansã
As filhas e os filhos de Iansã são pessoas audaciosas, que exalam poder e autoridade. São bastante batalhadores e contam com o auxílio dela para vencer as lutas travadas na vida. As pessoas que têm Oiá como mãe são obstinados e audaciosos, expressam bastante sensualidade e revelam ciúmes daquelas pessoas com quem estão se relacionando.
São extremamente inteligentes e estão sempre em busca do conhecimento, tal qual Iansã. São também muito intensos e com dificuldade de dominar seus impulsos, seja de amor, de ódio ou de raiva.
Oiá é muito protetora, guardando todos os seus filhos e filhas das tempestades da vida. Ela cuida das mulheres que vivem da feira livre e do comércio, e assegura proteção a todas as lideranças femininas. Iansã não é dominada por ninguém, nem por homens nem por mulheres, ela é livre e nos guia pelos caminhos da liberdade.
Autenticidade e identidade
Iansã é uma mulher majestosa, sem deixar de ser guerreira. Aprendemos, com Oiá, a nos posicionar no mundo e a reivindicar os nossos espaços. Ela também nos ensina a sempre caminhar com a cabeça erguida, com orgulho de sermos quem somos.
Iansã nos lembra que carregamos a força das guerreiras, que vão para a batalha com condições de vencer suas lutas. Mesmo que as tempestades cruzem os nossos caminhos e por vezes sejam devastadoras, elas sempre passarão, os trovões e as ventanias são Iansã brincando com o seu poder e nos lembrando da força e da garra que habita dentro de nós.
Referências bibliográficas:
PASSOS, MARLON MARCOS VIEIRA PASSOS. Oyá-Bethânia: os mitos de um orixá nos ritos de uma estrela. Dissertação (mestrado Estudos Étnicos e Africanos). Universidade Federal da Bahia: 2008.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2001
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Salvador: Corrupio, 2002.
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