Iemanjá é o nome da yabá mais conhecida no Brasil. Citada na literatura, no cinema, na música e, até, nas telenovelas, é, também, chamada por outros nomes e títulos, como Sereia do Mar, Rainha do Mar, Inaê, Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá. Observando tais referências feitas à deusa, fica claro que o seu reino é o mar, sim, ela é a dona das águas salgadas dos oceanos.
Origem de Iemanjá
A grande mãe dos orixás, a rainha dos mares, de muitos nomes, sendo Iemanjá o mais aclamado e conhecido. A origem de seu nome é ioruba e significa mãe cujos filhos são peixes.
As narrativas contam que no início tudo era fogo, vapores e chamas. Em meio a esse espaço caótico vivia o grande e solitário Olodumaré, o deus supremo. Porém, um dia, ele não quis mais viver sozinho e, com seu grande poder, fez jorrar uma quantidade imensa de água que correram durante dias sobre o universo.
Sua água colocou ordem naquilo que, antes, era o caos. E da grande inundação, surgiu a terra. Assim, Olodumaré criou os orixás e deu a cada um deles o poder sobre um elemento da natureza. Iemanjá foi a primeira orixá a ser criada, tornando-se a senhora e rainha das águas da Terra e a mãe de todos os seres viventes.
Outra tradição iorubana conta que Iemanjá é filha de Olokun. E, quando criança, ganhou de seu pai uma poção que a ajudava a fugir de muitos perigos. Depois de adulta, casou-se com Oduduá, com o qual teve dez filhos, são eles os orixás: Dadá, deus dos vegetais; Xango, deus do trovão; Ogum, deus do ferro e da guerra; Olokum, deus do mar; Oloxá, deusa dos lagos; Oiá, deusa do rio Niger; Oxum, deusa do rio Oxum; Obá, deusa do rio Obá; Orixá Okô, deusa da agricultura; Oxóssi, deus dos caçadores; Oké, deus dos montes; Ajê Xaluga, deus da riqueza; Xapanã (Shankpannã), deus da varíola; Orum, o Sol; Oxu, a Lua.
Iemanjá, a grande mãe
Por ser mãe de tantos filhos, Iemanjá é orixá maternal, intimamente ligada à fecundidade e ao mistério da geração. Sua relação com as águas, elemento gerador da vida, lhe proporciona ser cultuada como a grande matriarca. Iemanjá gera, cuida e protege. Ela garante o alimento e a bebida que hidrata.
Do mesmo modo que é responsável pela vida, sua proteção e conservação, ela também rege a morte. É, ao mesmo tempo, quente e fria, agitada e rápida, funda e rasa.
Síntese do feminino e sua liberdade
Iemanjá expressa, com clareza, o feminino que contém muitas nuances, com uma imensa capacidade de desenvolver seus potenciais.
Entre as narrativas, conta-se que, após um tempo casada com Olokun, Iemanjá se cansou de seu casamento e fugiu para bem longe. Então, ela se apaixonou novamente, só que dessa vez pelo rei Okerê, e casou-se com ele. Certa vez, esse marido referiu-se aos seus seios de maneira desagradável. Sentindo-se desrespeitada, o abandonou, deixando-o só.
Iemanjá é a representação mais fiel da liberdade plena, que é a possibilidade de escolher. Ela não se submeteu à infelicidade dos casamentos por conveniência. Ela não desistiu de buscar a sua felicidade e foi ao encontro de novas experiências.
O culto no Brasil
Iemanjá é muito conhecida e cultuada em diferentes regiões do Brasil.
Os presentes oferecidos são simbólicos: flores, espelhos, pentes e perfumes. Em troca os fiéis pedem a benção e as boas energias dessa yabá.
Todo o mar, e o que, nele, contém está sob as forças e domínio de Iemanjá. Desde os peixes, demais animais marinhos, navios, jangadas, barcos, pessoas, sejam pescadores ou banhistas.
Os pescadores e navegantes tem pela deusa uma grande devoção, sendo ela a protetora deles em seus trabalhos. Antes de saírem para pescar, pedem a benção e a proteção da senhora dos oceanos, afinal, ela controla o balanço das ondas, o fluxo das águas e o caminho dos peixes.
A saudação, os símbolos e a oferenda da deusa dos mares
Aqueles que desejam saudar a rainha do mar devem falar: “Odoyá!” Que quer dizer mãe das águas. Os filhos de Iemanjá lhe dirigem a saudação da seguinte forma: “Odoyá, minha mãe”.
Para além dos perfumes, flores, espelhos e pentes, é bom oferecer carneiro, pato e diversos pratos que têm por base o milho branco. Esse ebó muito lhe agrada.
Entre os símbolos da rainha do mar está o abebé, leque prateado que pode conter um espelho no meio. Suas cores são o branco, o azul claro e o prateado, fazem parte das suas indumentárias e representam toda vaidade e graciosidade da Rainha do Oceano.
Quando as iaôs de Iemanjá dançam, personificam as ondas dos mares, elas flexionam o corpo para frente e fazem movimentos com as mão que lembram o movimento das águas. Por isso suas coreografias são conhecidas como as danças sagradas das águas. As performances para Odoyá, também, envolvem balanços e formas que lembram a postura maternal e acolhedora dessa deusa.
As filhas e os filhos de Yemanjá
As filhas e os filhos de Iemanjá são pessoas muito vaidosas, gostam de cuidar da beleza e se sentem bem com isso. Também demonstram bastante equilíbrio emocional, são muito verdadeiros e protetores. Essa característica remete ao espírito de maternidade herdado de Iemanjá.
Força e liberdade
Com a rainha do mar se aprende a ser forte, a explorar todos os lados que existem dentro de nós, bem como buscar a essência da humanidade que habita cada pessoa. Iemanjá dá lição de liberdade, de nunca se deixar aprisionar naquilo que não proporciona o bem.
A grande e majestosa Iemanjá aponta os caminhos para a felicidade e por isso tem muito significado dizer: Odoyá minha mãe!
Referências bibliográficas:
BARROS, Cristiane Amaral de. Iemanjá e Pomba Gira: imagens do feminino da Umbanda. Dissertação (mestrado em ciência da religião). Universidade Federal de Juiz de Fora, 2006.
DAMACENO, Tatiana Maria. Nas águas de Iemanjá: um estudo das práticas performativas no candomblé e na festa à beira-mar. Tese (doutorado em artes cênicas) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2015.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Salvador: Corrupio, 2002.
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