Infelizmente, a visibilidade lésbica nos espaços de comunicação é ainda muito limitada e carregada de estereótipos. Nesse artigo, vamos conversar um pouco sobre a importância da representatividade lésbica nas mídias sociais para o combate da lesbofobia e das violências que isso gera.
Para se ter uma noção da problemática, em 2018, foi publicado o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil que apresentou dados realmente assustadores. O número de registros de assassinatos de mulheres lésbicas aumentou em 150%.
Entretanto, estima-se que esses números são muito maiores.
A invisibilidade desse e de outros grupos minoritários tem papel fundamental para a manutenção de preconceitos, aversão social e contribui diretamente para o aumento da violência sofrida por essas mulheres.
Ao contrário do feminicídio, que normalmente acontece em ambiente familiar, principalmente por companheiros, ex-companheiros e parentes do sexo masculino. O ataque a mulheres lésbicas é especificamente direcionado a um ódio ou repulsa por essas existências.
Nesse sentido, a maior parte dos ataques sofridos por esses grupos vem de pessoas desconhecidas, em maioria homens que as abordam na rua e as espancam até a morte.
Segundo o Dossiê Sobre Lesbocídio, do Núcleo de Inclusão Social da UFRJ, 55% dos casos acontecem em não-feminilizadas. Ou seja, que não se encaixam na aparência definida como padrão feminino.
A importância da representatividade lésbica nas mídias sociais, dentre outras coisas que também iremos abordar, é exatamente promover essa transformação na mentalidade da sociedade e assim promover respeito a diversidade e maior proteção a vida dessas mulheres.
Vamos entender melhor o cenário dessa representatividade? Continue a leitura.
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Importância da representatividade lésbica nas mídias sociais
“É comum a gente entender que o L da sigla LGBTQIA+ é apagado ou as vezes não ganha o destaque que poderia receber. Hoje o que precisa mesmo rolar em debate com todo mundo, é a gente entender que existe sim essa parcela dentro da comunidade, que é uma parcela grande pra caramba, e que são pessoas ali que estão lutando pra ser reconhecidas, pra que consigam lutar pela nossa aceitação, pela nossa normalização, pra mostrar que a gente não é um produto da indústria pornográfica pra oferecer satisfação pra um homem, não!”
Beatriz de Lima Vieira, mulher lésbica que ocupa o cargo de Analista de Experiência do Consumidor, de 22 anos de idade e moradora do estado de São Paulo.
Como já foi mencionado a representatividade visual, em especial, dessa comunidade e de outros grupos LGBTQIA+, ainda hoje continua muito baixa e estereotipada em todo o mundo.
O levantamento “Visual GPS 2021 da Getty Images” aponta que apenas 20% dos entrevistados globais afirmaram ver pessoas LGBTQIA+ representadas regularmente em imagens e, entretanto levam em conta essa questão dos estereótipos.
Isso porque, a maioria das produções audiovisuais são baseadas na ótica de homens. Isso explica por exemplo o fato de que a pornografia lésbica é a mais consumida. O termo (e categoria) ‘lésbica’ foi o mais pesquisado a nível mundial, sengundo dados publicados pelo Pornhub.
Dentro dessa perspectiva as histórias de romances lésbicos representadas nos cinemas seguem essa sexualização masculina. Dessa forma essa “representatividade” pode ser um grande desserviço.
A ótica masculina sobre essas relações
Um exemplo claro desse processo que as mulheres lésbicas são sujeitas nos meios de comunicação visual é o filme Azul é a cor mais quente, que ficou conhecidíssimo e por algum tempo defendido como forma de representação válida.
Dirigido por Abdellatif Kechiche esse é um filme que foi lançado em 2013, e possui uma cena de sexo entre as atrizes que dura 7 minutos que demorou 10 horas em média para ser gravada.
Entretanto, depois do projeto, com o posicionamento das atrizes principais ficou claro a violência e os abusos sofridos por elas para a construção dessas cenas estereotipadas.
Desde a utilização de protetores íntimos que machucavam, muito tempo sem roupa no set, além de diretor colocar a mão no corpo das meninas para demonstrar como gostaria que as cenas fossem feitas.
Ainda dentro dessa perspectiva de satisfazer o público heterossexual, algumas caracteríscas foram, por muito tempo, excluídas do cinema lésbico como desfeminilização, etnias e raças diversas ou corpos fora do padrão.
Tudo isso reflete como a sociedade enxerga esses grupos e reforça esses papeis.
Diante disso fica claro a problemática dentro desse tema. Visto que, os meios de comunicação, com seu grande poder de influência, não estão sendo utilizados para a construção de uma mentalidade que agrega a esse grupo vulnerável. Pelo contrário, continuam alimentando um imaginário que reforça preconceitos.
Entendendo agora esse aspecto da importância da representatividade lésbica nas mídias sociais, vamos entender um pouco como isso impacta também de forma individual, na construção da identidade pessoal, aceitação de si mesma e outros fatores.
Representatividade lésbica e referência pessoal
Um outro aspecto importantíssimo sobre representatividade lésbica são as referências pessoais. Dentro do processo de autoconhecimento e entendimento sobre a sexualidade se ver representada por histórias reais e dignas permite a ampliação de horizontes.
Quando isso não acontece, não só em relação às mulheres lésbicas, mas agora falando sobre minorias em geral, as possibilidades sobre a vida são encaradas de forma muito limitada e isso contribui para processos de autodepreciarão, conformismo, desenvolvimento de transtornos psicológicos, que podem inclusive levar ao suicídio, dentre muitas outras coisas.
Dentro desse panorama, os influenciadores digitais que fazem parte da comunidade LGBTQIA+ contribuem de forma muito significativa. Isso porque permite que milhares de pessoas, em especial pré-adolescentes e jovens que estão começando a entender a sua sexualidade agora se identificarem com histórias parecidas.
Isso gera um grupo de apoio que é fundamental para o acolhimento desses grupos. É importante ter em mente que há pouco tempo atrás esses espaços não existiam, ou eram muito menores. E a visibilidade hoje gerada a partir disso é uma conquista realmente significativa que beneficia a existência de muitas mulheres.
Progressos na visibilidade lésbica nas mídias sociais
Apesar de tudo isso, é importante notar que alguns avanços vêm sendo conquistado de maneira gradual nos últimos anos.
Isso pode ser observado em alguns filmes mais recentes, por exemplo Happiest Season, Fora de Série e Rafiki, que inclusive têm como característica comum a direção de mulheres (Clea DuVall, Olivia Wilde e Wanuri Kahiu, respectivamente).
Onde a proposta dos filmes é focada na história e no desenvolvimento das personagens, na humanização e naturalização desses romances sem dar ênfase ao sexo explícito e a objetificação.
Podemos citar também dois outros filmes, nesse caso dirigido por homens, porém com uma abordagem sensível e humana. Nós Duas foi filme indicado ao Globo de Ouro 2021 e foi dirigido por Filippo Meneghetti, e Eu Me Importo produzido pelo cineasta J Blakeson.
Entre outros trabalhados que felizmente tem entendido a importância da representatividade lésbica nas mídias sociais dessa maneira e seus impactos na sociedade.
Mas essa ainda é uma luta concreta e existe muito a ser conquistado para que esses espaços sejam ocupados por essas narrativas e contribuam para a construção de um mundo mais justo, igualitário e menos violento. Onde essas mulheres se sintam protegidas em se expressar e ser quem são. É um caminho longo, mas a mudança é gradual.
Sendo assim, cada passo dado nessa direção conta e faz a diferença tanto para essa quanto para as próximas gerações.
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