Os episódios da série A mulher e o mercado de trabalho, produzida pelas Mulheres de Luta em parceria com a Lascene Produções, estão disponíveis aqui no site.
O que é o Imposto Materno?
Sabe-se que, mesmo em 2020, a maternidade continua sendo uma imposição social. A modernidade do século XXI não colocou fim a todos os olhares tortos que a mulher recebe quando não deseja ser mãe e por isso, algumas mulheres dão esse passo para satisfazer uma expectativa que vem de fora.
Podemos também problematizar os limites da escolha feminina já que no Brasil o aborto é proibido. A mulher é, em primeiro lugar, julgada quando engravida, pois o ônus do planejamento familiar recai em grande parte sobre ela para depois ser punida uma vez que assume a maior parcela de responsabilidade quanto à criação e sustento dos filhos.
É a mulher que, muitas vezes, precisa escolher entre desenvolver sua carreira e cuidar da família como se ambos fossem excludentes para então lidar com a culpa dessa “escolha”.
É preciso problematizar o lugar ocupado historicamente pelos homens!
Transcrição do vídeo:
Fernanda Paes Leme: Às vezes tem muitos escritórios em que as mulheres combinam entre si quem é que pode engravidar em determinado momento, isso é muito comum e é um absurdo, “fulana é mais velha, então tem o direito de engravidar primeiro, porque não pode engravidar duas ao mesmo tempo, três ao mesmo tempo”.
Existe uma discriminação, um pé atrás com a maternidade e é uma contradição, porque a maternidade é uma imposição social, se é mulher todos esperam que você seja mãe.
Dra. Hildete Pereira de Melo: o bom da vida está no corpo feminino, porque é ele que faz com que a vida se desenvolva, mas ele é um ônus, porque enquanto você não conseguir conciliar trabalho com família e que você não conseguir envolver os homens com as atividades de cuidados, porque as responsabilidades das mulheres com relação a vida humana é ficar grávida e parir, as outras atividades podem ser feitas por homens ou por mulheres.
Heloísa Salles: São as raras as exceções em que o homem se coloca como responsável em exercer alguma atividade dentro de casa, porque a sua grande maioria é a mulher, a mulher tem esse papel, ela precisa trabalhar, muita das vezes a renda dela contribui pro sustento da casa, mas ela precisa também realizar todas as tarefas, cuidar dos filhos, muita das vezes pagar as contas, aí não sobra tempo para gente poder resolver nossas questões pessoais. Então é muito complicado, para mim simplesmente não existe essa divisão de tarefas.
Maurina Faccini: Eu que cuidava sozinha, lavar roupa, lavar fralda, lavar tudo, porque aquele tempo não usava fralda de descartável. Minha rotina era difícil, porque eu tinha duas crianças, dois meninos, ainda tinha que fazer os afazeres de casa, lavar roupa, fazer mamadeira e meu marido também trabalhava fora, eu nunca tive sonho de ter profissão.
Dra. Cecília Salgado: acho que nós mulheres se confronta, a gente se depara com escolhas muito mais evidentes do que o homem, o homem ninguém diz para ele escolher, ele não é confrontado, ele faz o que ele faz. Ninguém diz para ele: “olha, você tem que escolher agora, você vai atrás da sua esposa ou você vai se dedicar ser um cara muito bom na tua área, você vai fazer o que? Você vai criar seus filhos agora, vai dar atenção e amor”, ninguém fala isso para o homem, ele não tem que escolher.
Enquanto para gente é o tempo todo, escolhe, escolhe, olha para cá, olha para lá, joga isso para trás, bota isso para frente.
Dra. Lena Lavinas: Eu acho que as mulheres estão sempre diante de um grande dilema, elas gostariam de fazer escolhas first best, que é aquela que é mais adequada, mais eficiente, aquela que realmente atende as suas necessidades e elas acabam tendo que fazer escolhas second best e por que isso? Primeiro porque tem uma restrição no orçamento da família e geralmente é encima das mulheres, esse ajuste que se faz tudo em período mais difícil.
Em segundo lugar é justamente a ausência de previsão pública de escola em tempo integral, de creche em tempo integral. Tomando todas as escolas de ensino básico no Brasil, ensino básico é ensino pré-escola, fundamental e médio, se pegar todas, só 35% das escolas brasileiras são de tempo integral e acredito que boa parte dela seja privada, porque evidentemente é uma demanda dessa classe média que tem condições de pagar e onde as mulheres profissionais fazem questão de preservar o seu e emprego, crescer na carreira e, portanto, vão se sacrificar para pagar escolas muito caras.
Então diante dessa ausência, você acaba fazendo escolhas second best que é quando eu tenho que arrumar uma solução na ausência de uma provisão adequada daquilo que eu gostaria, eu pego uma empregada doméstica, muitas vezes uma jovem ou uma pessoa que não tenha muito hábito ou trato para cuidar de crianças.
Então você vai fazendo escolhas que, na verdade, as mulheres não têm escolhas, eu acho o que a gente acostuma a fazer é dentro de uma restrição muito grande, a gente faz escolhas que tendem a ser escolhas second best.
Heloísa Salles: eu trabalhei durante um tempo na UTI neonatal e eu tive uma experiência muito maravilhosa em relação ao cuidar dentro da minha profissão, foi uma experiência ímpar na minha vida, porque a gente lida com vidas e quando se trabalha em uma UTI neo você tem sempre a esperança de uma melhora, de alcançar um resultado dentro da tua profissão e a gente luta pela vida o tempo todo.
Mas foi um momento que eu sofri muito também, justamente por ter essa culpa de estar ali trabalhando, me dedicando para cuidar do filho de alguém, cuidando de uma vida, mas ao mesmo tempo com esse peso de saber que meu filho precisava ficar com uma pessoa, com quem eu não tinha uma plena confiança e não sabia se ele estava sendo bem cuidado, será se vou chegar em casa e ele vai estar bem, será se ele vai entender isso quando ele crescer ou será que ele pode esse revoltar e pensar “minha mãe me abandonou para trabalhar”.
Por várias vezes me peguei chorando e me questionando se realmente eu precisava fazer aquilo, se era uma coisa que eu ia continuar fazendo, se valia a pena, porque a saúde no Brasil é muito pouco valorizada, os profissionais de saúde ganham um salário vergonhoso. Então as vezes você para pensar, eu estou perdendo a infância do meu filho para ganhar um salário que muitas das vezes nem vai me sustentar.
Marcela Pavan: quando eu estou trabalhando, eu estou perdendo os momentos com meu filho, muitas mães reclamam, quem viu ele andar foi a babá, não fui eu, e ao contrário também, estou aqui com meu filho, quando eu voltar pro mercado de trabalho não vou estar atuando tanto, outras pessoas vão estar mais adiantadas do que eu, vou ter que começar de novo na minha profissão, aí eu me culpo porque não estou no mercado de trabalho ainda.
A questão é o que a gente está fazendo com essa culpa, os problemas existem quando a gente polariza, tem que ser uma coisa ou outra. Porque as pessoas pensam assim: “se eu tiver o filho vou ter que abrir mão totalmente daquilo”, ou então ao contrário e isso traz o sofrimento, traz uma série de doenças físicas mesmo.
Então, assim, é importante que a gente seja parceiro da gente mesmo nesse sentido, eu fiz essa escolha, então ok, como eu vou organizar isso melhor ao meu favor.
Yasmin Passos: para mim é muito mais importante ficar com minha filha do que qualquer sucesso profissional, porque o tempo vai passar e eu não vou recuperar isso, sucesso profissional posso ter a qualquer momento, agora o crescimento dela não posso voltar atrás.
Maurina Faccini: eu achei melhor cuidar dos meus filhos do que trabalhar, porque a gente cuida melhor dos filhos, podendo ficar em casa.
Yasmin Passos: são coisas que a gente não quer perder, os primeiros passinhos, os dentinhos, a primeira palavra, então quando ela estiver um pouquinho maiorzinha, eu vou preferir trabalhar em turnos, para poder passar um tempo com ela, porque trabalhar o dia inteiro eu vou perder tudo, eu vou chegar em casa ela vai estar dormindo, eu vou sair de casa ela vai estar dormindo, então eu não quero perder isso.
Heloísa Salles: existe um amor que você tem pelo seu filho, que você imagina que ninguém vai cuidar do seu filho melhor do que você, mas existe esse anseio de ter uma realização profissional, de realizar o teu desejo como ser humano e que você sabe que não vai conseguir ser feliz sem realizar isso.
A maternidade é maravilhosa, mas você sempre tem espaços a serem preenchidos e não é só uma questão financeira, é questão de realização pessoal mesmo, é muito complicado e isso sempre me dividiu muito, existe uma cobrança.
Viviane Lajter Segal: a mulher desde pequena ela aprende a entender que ela vai conhecer um príncipe encantado e que vai ser feliz para sempre, que vai ser mãe, que vai ter filhos e que a vida é bela, não necessariamente. A maternidade é ótima para quem decide ser mãe, claro tem inúmeras vantagens e ganhos, mas é muito difícil, realmente é muito difícil, você tem que abrir mão de muita coisa, por exemplo da questão profissional, talvez você não consiga se dedicar tanto profissionalmente quanto você se dedicaria se não fosse mãe.
Joice Soares: Somos obrigadas a competir partindo de lugares muito distintos, temos condições que são própria nossas, mulheres engravidam as que querem, passam por um período pós gravidez, de amamentação, por exemplo, e precisam continuar produzindo de forma que não tenha essa condição, estou dizendo só essa que é uma condição biológica da mulher, fora todas as outras imposições sociais do lugar conferido a mulher socialmente e que a gente sabe que não é conferido aos homens da mesma forma.
Fernanda Paes Leme: As mães têm salários mais baixos do que as não mães, então o que se pode perceber que existe sim o que se chama de imposto materno, que seria o próprio afastamento da mulher do mercado de trabalho em virtude da gestação, em virtude da licença maternidade e provavelmente algumas nem retornam ao mercado de trabalho logo após, acabam permanecendo em casa com os filhos até uma certa idade, até mesmo pelas dificuldades seja na repartição das tarefas com o pai, seja no próprio acesso a creche, a esse apoio institucional que deveria existir e a todos, que não necessariamente existe de forma eficiente.
Então você tem um afastamento do mercado de trabalho, o que a gente pode imaginar é que isso acabe acarretando uma interrupção da progressão da própria carreira, seja em virtude do afastamento simples pela licença maternidade, que não deveria ser maternidade, deveria ser licença parental, deveria haver a possiblidade de se discutir isso, dividir esse tempo com o pai, não necessariamente a mulher ficar tanto tempo afastada, ser dela a possibilidade de escolher um retorno antes.
Ou até mesmo ela ter tido a necessidade de se afastar por um período de tempo maior, então efetivamente você tem um diferencial de salário e a menor para as mulheres mães.
Maira Franca: o imposto materno está relacionado a isso, à uma desvantagem da mulher em relação ao homem, isso já começa com a concepção da licença maternidade que é exclusiva para mulheres. Os países mais desenvolvidos, na Suécia, na Finlândia, por exemplo, a licença maternidade e paternidade é igual para os dois, distribuída entre os dois.
Então isso já é uma desvantagem para a mulher no mercado de trabalho, porque o empregador vai pensar: “vou ficar 4 meses sem minha funcionária, então é melhor contratar um homem”.
Fernanda Paes Leme: é a mulher que tem que se preocupar em evitar a gravidez, evitar uma gestação. Se a gestação acontece recai sobre a mulher essa responsabilidade, então o ônus do planejamento é dela. A gente já até teve um aumento no uso de contraceptivos por parte dos homens, mas da camisinha, que efetivamente eu não sei se foi em virtude de uma parceria no planejamento familiar do uso do preservativo, ou se uma necessidade de você proteger diante da possibilidade de contrair alguma doença sexualmente transmissível.
O próprio aumento, muito pequeno, bem pequeno mesmo, da realização de vasectomia para os homens, também não nos permite afirmar uma mudança de comportamento, a gente tem um percentual ínfimo de homens que fazem a vasectomia, embora seja um procedimento bem mais simples do que a cirurgia feita e realizada pela mulher que é a laqueadura de trompas.
E ainda sim quando se tem a escolha pelo procedimento cirúrgico, ela acaba sempre recaindo sobre a mulher, então parece que não existe um planejamento e se tem que existir esse planejamento é um ônus também exclusivamente da mulher.
Mesmo porque se a gestação ocorre a gente sabe que infelizmente a maior parte da reponsabilidade também recairá sobre a mulher, seja se ela continuar com aquela pessoa, com o pai daquela criança, a responsabilidade da criação, majoritariamente pensando nas famílias, recai sobre a mulher. Ela pode ser abandonada durante essa gestação ou após o nascimento dessa criança, enfim, o ônus é dela.
Dra. Hildete Pereira de Melo: Os filhos são sempre das mulheres, os homens não se relacionam com os filhos, eles se relacionam com as mulheres, é tanto que você tem um pai de família ótimo, ele se separou, se apaixona por outra, ele vai embora de casa feliz da vida, da tchau e só paga a pensão se tiver a carteira assinada e se a mulher for na justiça e obrigar, quer dizer claro que tem exceções.
Estou falando de uma maneira geral e eu tenho exemplos familiares de um ótimo pai de família que se apaixonou por outra, foi embora, ela tinha dois filhos e ele esquece até o aniversário dos filhos, e ele era ótimo pai, durante 20 anos.
Geralda Araújo: Quando eu estava com ele, no começo eu não sofria, ele dava tudo para os meus filhos, mas depois que ele arrumou uma mulher aí arruinou tudo para mim, me deixou com oito filhos, aí não me deu mais nada, ele não liga para os filhos, a escola dos meninos ele abandonou, não pagou mais.
Antonia Vicente Rosa: Quando eu optei em ter os filhos, sinceramente, eu nunca me vi assim pai, mãe e filho, eu foquei neles, eu esqueci e coloquei o pai de lado, o pai não podia fazer mais nada por ele, era aquela cabeça mesmo, mas eu falei esses dois seres aqui pequeninhos aqui eu posso fazer alguma coisa por eles, então como mãe, morando no subúrbio, numa área que não era de segurança.
Eu acho que eu consegui conduzir eles em um bom caminho, eu penso que eu consegui isso com muita luta, com muita renúncia também, porque eu acho que renunciei muita coisa para viver a vida deles, eu foquei só neles.
Geralda Araújo: tem um rapaz, um homem lá que queria que eu desse meus filhos, era até um senhor de idade, eu disse: “olha, aonde o senhor me encontrar morta, meus filhos estão tudo rodeada de mim, porque eu não dou”, o senhor: “você vai sofrer, morrer, criar esse horror de filhos”, dona Geralda: “como eu já falei pro senhor, o senhor me achar morta, mas meus filhos estão tudo a redor de mim”.
Dá meus filhos, nunca passou pela minha cabeça dá meus filhos, criei tudinho, sofrendo, passando necessidade, tanto eu como eles, mas criei meus filhos tudinho e graças a Deus o que eu passei por eles não estou arrependida, meus filhos vou te dizer, todos eles são bons para mim, vou te dizer, tem gente que diz você teve sorte e eu digo graças a Deus, tive muita sorte com meus filhos, graças a Deus.
Fernanda Paes Leme: o pai, o homem, ele pode e muitas vezes o faz, a gente sabe disso, diz que não estava preparado para ter um filho, então ele abandona, ele aparece de vez em quando, manda um presente no natal ou nem isso faz, paga a pensão e já acha que está fazendo muito, quando paga, e a mulher que tem a sua vida totalmente transformada em virtude daquele nascimento, daquela gestação, que ela também não poderia estar preparada naquele momento.
E a nossa sociedade proíbe o aborto, ver com maus olhos o aborto, então a mulher porque ela teve, ela concebeu, ela teve o filho, ela é mal vista porque teve o filho antes de casar, engravidou tão nova, aí ela é julgada no primeiro momento. No segundo momento ela é punida: num engravidou? Agora tem que cuidar mesmo, agora não pode reclamar, aí ela é punida por essa maternidade.
Depois ela não tem apoio necessário para exercer a sua escolha, o homem não, o homem ele pode, ele pode não, mas ele facilmente acaba abandonando ou sentindo percebendo de uma forma mais branda, mais suave esse encargo.
Eu acho a maternidade fantástica, eu acho a maternidade realmente fantástica, eu tenho filho, eu amo ter meu filho, mas foi uma escolha minha, então não é querer desconstruir a maternidade, não é isso, mas eu compreendo que dentro do direito fundamental ao planejamento familiar, deveria sim estar inserido o direito ao aborto.
Marcela Pavan: A mulher tem um olhar para a maternidade de várias maneiras, antigamente era assim, tenho que ser mãe e se eu não for mãe, eu devia alguma coisa ao mundo, acabei que não cumpri com meu papel de mulher, hoje em dia não, a gente ver pessoas decidindo não ser mãe porque não querem ser mãe, ou então não querem ser mãe agora, só depois, ou então preferem agora.
Então não existe uma forma única de lidar coma maternidade, tão unilateral como era antes, agora cada mulher olha para ela de uma forma e tenta entender isso de uma forma, porque, assim, a gente percebe, eu vejo isso muito no consultório quando vai chegando a uma certa idade perto dos 30, não é unanime, mas você ver isso acontecer muito frequentemente, a mulher começa a questionar: “eu tenho quase 30, vou ser mãe, não vou ser mãe”.
E como isso impacta toda noção de futuro, eu tenho que ter então uma relação, que eu tinha mais despreocupada, então começo uma preocupação, começo a ter um laço mais estável de ter um filho, tenho que trabalhar mais porque tenho que ter dinheiro para poder ter um filho, então reorganiza, reorienta toda uma vida quando você começa a levar isso em consideração. Outras pessoas já falam “não, eu não quero isso, não é o que eu quero”, conheço muitos casais assim.
Viviane Lajter Segal: Uma mulher bancar hoje em dia, ainda hoje em dia, que não quer ter filhos, é muito difícil, acho que entra muito estigma social. Uma vez eu atendi uma pessoa, uma mulher que realmente não queria ter filhos e estava muito satisfeita como estava, uma mulher jovem de trinta e poucos anos, mas o estigma social e a pressão familiar, de amigos era tão forte, que ela acabou tendo filho, o que acabou gerando outro problema, uma outra questão pra ela, porque essa maternidade foi um pouco conturbada, enfim, a gente trabalhou isso.
Mas era impressionante realmente a força do estigma social, então ela ficou, antes de engravidar, ficou com aqueles rótulos de “você tem problemas, você não pode engravidar, você não é capaz de ter um relacionamento sério, ou qual é o seu problema que você não é mãe ainda aos trinta e poucos anos?”. Porque aí entra aquela coisa do relógio biológico, então foi uma pressão tão grande, no caso dessa especifica, que ela acabou cedendo, acabou tendo um filho não exatamente desejado.
Shirlene de Oliveira: é uma luta diária, você se colocar assim e dizer: “eu não quero ter filho, eu não quero cuidar de casa, de marido”. Eu acho que as funções da casa devem ser divididas e quando eu falo isso causa muito espanto nas mulheres.
Fernanda Paes Leme: você quer se afirmar no mercado de trabalho, você estudou, você se preparou para isso, você tem o direito de exercer sua profissão livremente e pelo fato de você ser mulher isso acaba sendo dificultado, em virtude daquele seu dever social de ser mãe e ninguém pergunta se você quer ser mãe, se você quer exercer a maternidade, então é muito complicado, é muito difícil mesmo.
Dra. Carla Rodrigues: Se você pensar o corpo da mulher como o corpo do qual depende à reprodução e a manutenção da espécie humana, se nenhuma mulher mais parir, a humanidade acaba? É obvio que esse poder precisa ser controlado a qualquer preço, porque esse poder que desaparece em todo em todos os discursos machistas, a rigor não há ninguém mais poderoso do que uma mulher, se você for pelo discurso da natureza, nada é mais poderoso e poder decidir se reproduz ou não, se a espécie continua ou não.
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