“Após a breve conversa, eles caminham por entre as estátuas e bustos da simulação, lendo suas biografias e tocando-as, na intenção de recriar em suas mentes os momentos que viveram e os imortalizarem. E assim permanecem no local, um pouco mais de dez minutos. Mas o mundo lá fora bate à porta, o aviso sonoro informa que a simulação terminará em cinco minutos.”
(In) Verdades, Lu Ain Zaila
Lu Ain-Zaila nasceu em Nova Iguaçu, município da baixada fluminense do Rio de Janeiro. Formada em pedagogia pela UFRJ, Lu passa a se dedicar à atividade da escrita em 2015, quando na Bienal do Livro daquele ano percebeu que não haviam obras que trouxessem o protagonismo negro, com as quais ela e outras tantas pessoas do Brasil pudessem se identificar.
Se esse foi o pontapé que levou a escritora ao mundo da literatura, o conteúdo que ela tinha para compartilhar na escrita já estava sendo lapidado há muito tempo.
Lu, mesmo antes de ingressar na academia, já participava de movimentos sociais pré-comunitários e de ações afirmativas. Sua leitura era especialmente direcionada às ciências sociais com temas relacionados à direitos humanos e movimento negro.
Especialmente durante o período em que foi bolsista do PROAFRO (Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-americanos) da UERJ, Lu Ain-Zaila passou a se aprofundar na leitura de escritores negros e escritoras negras como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Abdias Nascimento, Milton Santos, Alberto Guerreiro Ramos, Lélia Gonzalez entre outras e outros. Ao se aprofundar nesses estudos ficou ainda mais evidente para Lu que o ensino formal não trazia todas essas referências e que isso precisava mudar.
Mas, para mergulhar no universo da literatura passou a estudar também conteúdos relacionados a escrita literária. Essas duas áreas do conhecimento se integram em sua obra, mas a escrita não surge do nada na vida de uma escritora.
Em 2007, Lu Ain-Zaila já havia escrito o conto “O caminho de Nande” que foi publicado na revista Eparrei, da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos/SP. Nesse conto Lu conta a relação de uma mãe e filha que visitam a avó numa área em que havia sido um quilombo, unindo três gerações de mulheres em um espaço significativo para ambas, cada qual com uma relação.
Entre 2011 e 2014 a escrita de Lu se manifestava em poesias, uma vez que a escritora fazia parte do movimento hip-hop da baixada trazendo conteúdos sobre consciência e crítica social.
Sua primeira obra, “Duologia Brasil 2408” com os livros (In) Verdades (2016) e (R) Evolução (2017), traz como gênero a ficção científica distópica com uma protagonista negra chamada Ena.
(In) Verdades (2016) é a primeira obra especulativa nacional protagonizada por uma mulher negra. Nela, Ena parte em uma luta contra a corrupção de seu país. Em (R) Evolução temos a sequência de (In) Verdades.
Em 2018 lança seu segundo livro com uma coleção de contos afrofuturistas chamado “Sankofia: breves histórias afrofuturistas”. Os contos trazem protagonistas negras vivenciando histórias que trazem a ancestralidade e a cultura negra.
Como percebemos, além do afrofuturismo a autora também aborda conteúdos relacionados à gênero. Em Sankofia um dos contos que traz o tema é o “Ode à Laudelina”. Laudelina foi fundadora do primeiro sindicato de empregadas domésticas. O conto traz a realidade das empregadas domésticas com ficção científica.
A novela cyberfunk “Ìségún” em parceria com a Monomito Editorial é a terceira obra de Lu Ain-Zaila. O livro aborda o racismo ambiental, o extrativismo urbano e a exploração humana.
A produção de Lu Ain-Zaila mistura consciência, esperança, contestação e uma perspectiva anti racista.
Saiba mais sobre o afrofuturismo de Lu Ain-Zaila na Live. Acesse aqui.

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