Paulista de Duartina, Lucia Hiratsuka descobriu sua paixão pelos livros, mais especificamente pela ilustração, ainda na infância.
No sítio Asahi, onde nasceu, teve uma infância cercada de poesia, natureza e livros que vinham do Japão – país de origem de sua avó, que se encarregava de contar as histórias de infância para a neta.
Foi nessa fase também que surgiu seu desejo de trabalhar com o desenho. Alfabetizada em japonês, a artista desde a tenra idade já lia as imagens.
Vale lembrar que, para Lucia Hiratsuka, apreender o mundo é ler não só as palavras, mas as imagens, o vazio, o silêncio e a página em branco. Influenciada pela vivência na roça, ela costuma se definir como uma caipira com toque oriental.
É fundamental destacar que Lucia Hiratsuka fazia dos livros grandes aliados para o aprendizado, mas também os enxergava como uma forma de distração e acesso ao mundo da imaginação. Essa foi sua maior diversão até seguir para a cidade de São Paulo, onde estudou na Faculdade de Belas Artes, anos mais tarde. Após conhecer o trabalho de Eva Furnari, fez seu primeiro projeto de livro para buscar um trabalho de ilustração.
A partir de então, teve contato, de fato, com a pintura e, em seguida, ganhou uma bolsa para a Faculdade de Fugoka, no Japão, onde realizou pesquisas sobre o desenho na literatura infantil.
Graças a esse trabalho, Lucia Hiratsuka recebeu o Prêmio APCA. Além disso, a coleção Contos e Lendas do Japão recebeu o selo Altamente Recomendável, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil.
No entanto, segundo seus próprios relatos, sua carreira como ilustradora e escritora começou de fato somente a partir dos anos 90 quando tomou a decisão de trabalhar apenas com literatura infanto juvenil.
Seu processo produtivo começa com a escrita, sempre tentando resgatar algo que a tenha tocado. Em suas ilustrações, Lucia Hiratsuka coloca no papel as próprias lembranças da infância e, ainda, aquelas histórias contadas por seus familiares. O que chama atenção é o fato de não trabalhar com um único material, como aquarela para ilustrar, mas buscá-lo de acordo com cada história.
Lucia Hiratsuka conta que quando ilustra livros de outros autores procura mergulhar naqueles textos para compreender como a imagem pode integrar a natureza daquela obra. No entanto, quando o texto é de sua autoria, ela toma cuidado para que ele não fique redundante, mas afetivo.
Um exemplo disso é perceptível no livro “Caminhão”, em que retrata uma cena comum à sua realidade: um caminhão que chegava à roça uma vez por mês e causava grande alvoraço em todos os moradores. Sem dúvidas, a curiosidade, traço de sua infância, é uma fonte de inspiração.
Dentre os 23 livros já publicados, um de grande importância é “Orie”, que enfoca a história de sua vó contada de forma poética, outra grande inspiração para a ilustradora.
Todas essas lembranças da infância feliz que teve são ilustradas constantemente nos seus livros.
Quanto ao desafio de publicar um livro, Lucia Hiratsuka acredita que é uma questão de persistência, ou seja, fazer o primeiro lançamento, lidar com uma expectativa que nem sempre é atendida e continuar publicando.
Essa artista plural ainda aconselha outros colegas de profissão: em momentos de crise, o olhar deve estar voltado para o estudo, pois afinal vale se perguntar: “Onde estarei daqui a 10 anos?”.
Entre suas conquistas mais recentes está a seleção de “Histórias guardadas pelo rio” para compor a lista White Ravens de 2020, destaque da Feira de Livro de Frankfurt e referência mundial na indicação das melhores obras publicadas anualmente.
O livro de Lucia Hiratsuka aparece ao lado de outras quatro obras brasileiras selecionadas pela maior biblioteca de literatura infantil e juvenil do mundo para integrar o evento deste ano.
Ganhador do Prêmio Jabuti na categoria de melhor livro juvenil, “Histórias guardadas pelo rio” se debruça sobre a saga de Pedro, que parte em uma viagem de descoberta depois de perder a capacidade de pescar boas histórias.
Assista ao vídeo entrevista com Lucia Hiratsuka!
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