Toda vez que uma mulher se defende, sem nem perceber que isso é possível, sem qualquer pretensão, ela defende todas as mulheres.
Maya Angelou
A United States Mint começou a produção das moedas do American Women Quarters Program nesta segunda-feira, 10/01/2022. As moedas de 25 centavos serão produzidas com a imagem de notáveis mulheres americanas. Neste trimestre a homenageada é a artista e escritora Maya Angelou, a primeira mulher negra a ser destaque em uma moeda americana.
Para resgatar sua trajetória, o Mulheres de Luta traz para você uma breve biografia da escritora e ativista americana.
Ainda assim, eu me ergo, Maya Angelou
Em 04 de abril de 1928, a enfermeira Vivian Baxter Johnsons e o porteiro e nutricionista da marinha Bailey Johnson comemoravam o nascimento de sua filha Marguerite Ann Johnson em St. Louis, Missouri. O casal já tinha um filho de um ano, Bailey Jr., que não conseguia pronunciar o nome da irmã recém chegada. Ele se referia a ela como “My” ou “Mya”, querendo dizer “my sister”. O apelido pegou e após alguns anos, a menina adotou o apelido também como pseudônimo, em um nome que ficaria eternizado na história da literatura americana e na luta pelos direitos civis dos afroamericanos: Maya Angelou.
Os pais de Maya se separaram quando ela tinha três anos de idade, fato que fez com que ela e seu irmão enfrentassem uma viagem de trem sozinhos rumo à cidade de Stamps, no Arkansas, onde iriam morar com a avó paterna Annie Henderson.
Ao contrário da maioria dos negros americanos da época que enfrentavam adversidades financeiras, Annie Henderson tinha prosperado durante a Grande Depressão, especialmente devido à uma loja de suprimentos que possuia. Além disso, ela investia em terras e era muito respeitada pela comunidade negra de Stamps.
Após um tempo, Maya e o irmão foram novamente morar com a mãe em St. Louis e, aos 8 anos, Angelou foi estuprada pelo namorado da mãe. O homem, chamado de Mr. Freeman, ameaçou Maya dizendo que mataria sua mãe e seu irmão se ela contasse a alguém. Ela se calou, mas sua mãe encontrou suas roupas íntimas, e desconfiando que algo tinha ocorrido levou a filha ao hospital. Após insistência do irmão, Maya contou o ocorrido. Mr. Freeman foi preso, mas seu advogado conseguiu libertá-lo. No mesmo dia, Mr. Freeman foi encontrado morto. Maya Angelou se sentiu culpada pela morte do homem e se sentenciou ao silêncio, permanecendo muda por anos.
A família a mandou novamente para Stamps e, aos 12 anos, Maya Angelou voltou a falar com ajuda de uma vizinha chamada Mrs. Bertha Flowers, uma mulher negra e aristocrata que estimulou a menina a ler e a se expressar.
Maya e o irmão voltam a morar com a mãe em San Francisco, Califórnia. Lá, Angelou consegue um emprego e se torna a primeira mulher negra condutora de bonde, além de receber uma bolsa de estudos na Califórnia Labour School, onde fez aulas de dança e teatro. Formou-se na George Washington High School aos 16 anos, mesmo ano em que deu à luz ao filho Guy.
Mãe solteira, começou a trabalhar para sustentar a si e ao filho. Teve emprego de cozinheira, recepcionista e até em uma oficina mecânica. Morou por pouco tempo em San Diego, onde trabalhou também como dançarina em um bar de stripers, mas retornou à São Francisco para fazer shows em boates como cantora e dançarina de calypso. Angelou inclusive lançou alguns álbuns musicais.
Na década de 1950 Maya se casou com Tosh Angelos, um ex-marinheiro grego que na época atuava como músico e eletricista. Até então, ela usava o nome de Marguerite Johnson ou Rita, mas os gerentes da boate sugeriram que ela adotasse um nome mais teatral. Foi então que surgiu Maya Angelou, juntando o apelido dado pelo irmão, seguido por uma variação do nome de seu marido.
“O sucesso é gostar de você mesmo, gostar do que você faz e gostar de como você faz isso”
Maya Angelou
Em 1952, Maya ganhou uma bolsa para estudar dança africana com a dançarina Pearl Primus, mudando-se com o marido e o filho para Nova York. Anos mais tarde, Maya Angelou também estudou dança com Martha Graham.
O casamento não durou muito, mas a carreira de Maya decolou. Começou a atuar em papéis importantes no teatro, dentro e fora da Broadway. Atuou no cinema e na TV, com destaque para a série Raízes (Roots) de 1977, que recebeu nove Emmys e um Globo de Ouro.
Em 1958, juntou-se ao Harlem Writers Guild, uma organização de escritores afro americanos. Na década de 1960, Maya Angelou intensificou sua amizade com grandes defensores do movimento negro como Martin Luther King Jr e Malcolm X, o que a levou a trabalhar em prol dos direitos civis dos afroamericanos. Na mesma década, Maya Angelou viajou para a África, passando pelo Egito e por Gana, onde trabalhou como escritora freelancer e professora, especialmente em defesa dos movimentos de independência africanos que ocorriam na época.
Ao retornar para os EUA, começou a publicar seus livros. I Know Why the Caged Bird Sings (Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola), de 1970, foi indicado ao Prêmio “National Book Award” e para o “Pulitzer” de poesia. A obra é uma autobiografia da escritora que narra sua infância e adolescência, até o nascimento de seu filho Guy Jonhson, além de abordar a visão da escritora sobre a segregação racial nos EUA.
Just Give Me a Cool Drink of Water ‘fore I Diiie, de 1971, foi a primeira coletânea poética de Maya e também foi indicado ao “Pulitzer”. Em 1978, Angelou lança And Still I Rise, uma coletânea de 32 poemas dedicados à exaltação da esperança e da superação das adversidades.
Angelou não teve filha menina, mas escreveu Carta à Minha Filha, publicado em 2008. Nessa trajetória de protagonismo de sua própria vida, Angelou também projeta seus anseios ao futuro para as herdeiras de seu legado. A edição brasileira conta com um prefácio de Conceição Evaristo.
Mamãe & Eu & Mamãe, último livro publicado por Angelou, em 2013, narra o relacionamento conturbado que teve com sua mãe. O livro é também uma busca por reconciliação e cura.
“As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse, mas elas sempre lembrarão como você as fez sentir”.
Maya Angelou
Em 2011, o presidente Barack Obama condecorou Maya Angelou com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honraria conferida pelo governo dos EUA a ativistas dos direitos civis.
Anos depois, em 2014, Maya Angelou trabalhava em uma autobiografia sobre seus encontros com líderes mundiais. Esse era apenas um dos quatro livros que ela estava escrevendo, segundo o seu filho Guy Johnson. No mesmo ano, em 28 de maio, Maya Angelou faleceu aos 86 anos. No falecimento de Angelou, inúmeras homenagens foram prestadas à ela por artistas e líderes como Oprah Winfrey, Michelle Obama, Bill Clinton e Barack Obama, além de inúmeras pessoas que foram impactadas por sua obra e trajetória.
Em 2015, um selo postal foi produzido em homenagem à escritora e agora, em 2022, ela será novamente relembrada no verso das moedas de 25 centavos. O projeto Mulheres Americanas Proeminentes também homenageará ainda esse ano a astronauta e física Sally Ride, a líder da Nação Cherokee Wilma Mankiller, a política e ativista Nina Otero-Warren e a atriz de ascendência asiática Anna May Wong.
Na moeda de Angelou ela aparece com os braços levantados na frente de um pássaro voando. Ambos são coroados por um sol nascente, uma imagem inspirada na poesia que Angelou escrevia transmitindo liberdade, superação e coragem.

Referências
ANGELOU, Maya . Eu sei porque o pássaro canta na gaiola. Editora Astral Cultural. 2018.
CORRÊA, Cláudia Maria Fernandes. A Autobiografia Negra Feminina: O Caso Maya Angelou.
Maya Angelou to become the first Black woman to appear on U.S. quarter as Treasury rollout begins. Washington Post. Annabelle Timsit. 11 de janeiro de 2022. Acesso em 11 jan 2022.
Poetisa e ativista racial: quem é Maya Angelou, 1ª negra em moeda dos EUA. The Universa. Ruth Pina. 11 de janeiro de 2022. Acesso em 11 jan 2022.
Maya Angelou: mulher negra estampa pela 1ª vez moeda de dólar nos EUA. G1. France Presse. 11 de janeiro de 2022. Acesso em 11 jan 2022.
Maya Angelou, uma vida completa. El País. Alberto López. 04 de abril de 2018. Acesso em 11 jan 2022.
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