O projeto Mulheres de Luta convidou um grupo de mulheres para compartilhar seus estudos sobre a infância. São elas: Rosália Duarte, coordenadora do Grupo de Pesquisa Educação e Mídia da PUC-RJ, Jane Santos, professora do Departamento de Educação da UNIRIO, Lenir Nascimento, médica pediatra, Giselly Lima de Moraes, pesquisadora de Literatura Brasileira e Adriana Friedmann, educadora e antropóloga.
Friedmann afirma: “É importante entender que há uma diversidade de crianças, de vidas infantis, de realidades no mundo, no Brasil principalmente, e a influência que a cultura e a família têm. Dentro de um pequeno núcleo familiar existem heranças e raízes multiculturais diversas, repertório que influencia profundamente as crianças.”
Nesse contexto, a escola é um lugar em que todos esses fatores são reunidos e compartilhados entre si. Trata-se de um local de aprendizado não só acadêmico, mas social, pois é nesse ambiente que a criança e o adolescente aprendem a lidar com o universo alheio. Consequentemente, cabe aos educadores, pais e outros adultos envolvidos lidar com esse encontro de mundos da melhor maneira, escutando cada um deles e garantindo que essa troca seja feita com o respeito e cuidado necessários.
Através de outros meios, que não as palavras, podemos perceber que há sempre um diálogo em jogo e algo a ser compartilhado, principalmente por aqueles que ainda não sabem utilizar a linguagem verbal. Desse modo, a falta de diálogo pode resultar no distanciamento dos pais com a criança, já que estamos numa época em que as tecnologias estão em alta e são apresentadas cada vez mais cedo, com fins recreativos ou como forma de oferecer maior capacitação aos filhos, o que pode ser problemático.
Segundo Lenir Nascimento: “Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico. Na época dos meus filhos, por exemplo, as crianças já nasciam olhando os pais mexendo no “mouse” e faziam o mesmo sem serem estimulados a isso, conseguindo um letramento em relação ao computador diferente da minha geração. As crianças novinhas de hoje (tão novinhas com um ano e pouco) com a tecnologia de “touch”, outros tipos de tecnologia e a internet, nascem sabendo levar o dedinho ao “touch” perfeitamente. É óbvio que elas se beneficiam disso, porém dar intencionalidade extrema a esse contexto, forçando as crianças desde muito cedo a precisar aprender é diferente.”
A cada dia, as crianças são cobradas mais cedo a realizar tarefas que antes eram desenvolvidas em outros momentos na infância. A pressão para entrar no mercado de trabalho e ingressar em escolas com um grau de rigorosidade elevado tem crescido, por isso, é importante falarmos sobre os impactos dessa realidade na própria infância, pois há uma preocupação em vê-las realizando tarefas que na verdade não seriam recomendadas em faixas etárias mais baixas.
A pediatra Lenir ainda complementa: “Nós vemos com essa ideia desenvolvimentista levada ao extremo que os cotidianos das crianças acabam sendo o tempo todo oportunidade de estimulação e não de convivência, criação de vínculo e carinho. Então, vemos que “o cardápio dele não está bom” ao invés de “poxa meu filho, você não comeu direito.”
No campo da leitura, outra temática atemporal que envolve não só, mas também a infância é a formação de leitores. Em busca de possíveis caminhos, podemos nos questionar: Como incentivar a leitura desde a tenra idade? E ainda: quais são os desafios presentes na formação do leitor? Sem dúvidas, o assunto é complexo tendo em vista que essa é uma questão histórica brasileira que deve ser discutida sob várias perspectivas.
Sabe-se que não se trata meramente da dimensão pedagógica, mas da esfera sociocultural bem como tecnológica. Para Giselly Lima de Moraes, é preciso valorizar a cultura do livro e da leitura concretamente. Além de políticas públicas que visam o letramento, a prática e o contato com a leitura devem ser incentivados durante a infância. Não se pode esquecer que a literatura, embora não seja a única, é uma excelente porta de entrada para o mundo da palavra. Portanto, livros devem ser apresentados e valorizados no ambiente familiar como experiências interessantes, construtivas e prazerosas e não como ferramentas necessárias somente para o desenvolvimento escolar.
A questão de gênero também deve ser considerada quando se discute infância. Algumas mães buscam compartilhar com suas filhas temas como equidade enquanto outras abordam e conversam com seus filhos sobre os obstáculos que os meninos também sofrem. Trata-se de uma carga a mais a ser levada nas costas pelos jovens, portanto a necessidade de promover esse diálogo se torna latente.
Há meninas que desde muito cedo tendem a ser sexualizadas pela exposição na internet, e na ausência do diálogo familiar, podem não perceber a situação se agravar. Os depoimentos dessas mulheres trazem uma visão mais profunda sobre o olhar feminino na infância e como as questões de gêneros, ou até de etnia, classe econômica e outras diversidades podem exercer grande influência no desenvolvimento das crianças, não só no ambiente escolar, mas também externamente. Por isso, vale reforçar que toda cultura e diferença precisam ser respeitadas desde o início da vida.
De acordo com a educadora Friedmann:
“Esse tema da equidade tem muito a ver com questões de cultura, crença religiosa, gênero, raça, condição econômica, então temos um caldo, uma diversidade, uma riqueza, principalmente no nosso país, que precisa ser conhecida e reconhecida principalmente dentro da escola. Mas é claro que precisamos entender que a criança não é somente um aluno, e que fora do mundo da escola, ela tem toda uma vida, um repertório e muitas aprendizagens. É um ambiente em que ela vai viver com crianças de diferentes idades e provavelmente diferentes realidades também, em muitos casos.
Tanto dentro quanto fora da escola, nesse sentido, a gente precisa criar oportunidades para que a escola converse com a cidade, com a comunidade e vice versa, simbolicamente derrubar os muros da escola para dar passagem à cultura daquela comunidade em que a criança cresce, convive e que aprende muita coisa.”
Questões como a desigualdade social deveriam ser mais debatidas. Jane Santos chama atenção para esse tema em seu depoimento, pois são fatores que mudam completamente a integração da criança na sociedade. Como o Brasil está entre os dez países mais desiguais do mundo, não tem como falarmos de educação sem abrir a discussão para a desigualdade econômica entre famílias.
Jane Santos reitera: “A escola pública brasileira é uma escola deficitária, ela caminhou muito nos últimos 50 anos, caminhou, modificou e se tornou uma escola de massa, mas ela não atende às necessidades básicas. Muitas das vezes, as questões extramuros afetam as escolas em áreas populares. No Rio de Janeiro, em 2018, várias escolas ficaram mais tempo fechadas por conta de tiroteios, invasões e batidas policiais do que funcionando. Já temos um problema sério que é esse, institucionalizado.”
Sem condições básicas, como segurança, muitas vezes a inclusão digital acaba sendo deixada de lado, ou então, não recebe a devida atenção. Em um país no qual grande parte da população já tem acesso aos aparelhos digitais, ainda há uma parcela maior do que imaginamos que não possui condições básicas, tais como alimentação adequada, acesso à água e outros recursos indispensáveis para uma sobrevivência digna.
Assista aos vídeos com as entrevistas por tópicos:

O que o feminismo conquistou?
Para celebrar a importância do feminismo na sociedade, bem como sua contribuição, o Mulheres de Luta elencou 6 conquistas das mulheres que só foram possíveis devido à luta recorrente em diversas épocas e lugares pelos direitos das mulheres na sociedade.

Branca Moreira Alves
A contribuição de Branca Moreira Alves para o movimento feminista no Brasil vai além das obras de sua autoria que discorrem sobre feminismo e as transformações sociais pelas quais o país passou ainda nos anos de chumbo. Sua história de vida está atrelada às pesquisas e trabalhos desenvolvidos na temática de gênero.

Feminismo camponês popular ou feminismo rural
A doutora em sociologia e pesquisadora Lorena Moraes conversou com o Mulheres de Luta sobre o Feminismo Camponês Popular, ou o Feminismo Rural, como é chamado em algumas localidades brasileiras.

Ana Maria Magalhães
Ana Maria Portinho Magalhães é uma atriz, diretora, produtora e roteirista brasileira de grande renome.

A escuta da crianca
Adriana Friedmann explica que o aprendizado na infância ocorre principalmente por exemplo e imitação.
Maternidade e trabalho
Você já parou para pensar na relação entre maternidade e mercado de trabalho? Sabe-se que, mesmo em 2020, a maternidade continua sendo uma imposição social.
Cassandra Rios
Odete Rios, pseudônimo de Cassandra Rios, foi uma escritora paulista, considerada a pioneira da literatura lésbica no Brasil. Com aproximadamente 40 livros publicados, entre eles

Lélia Gonzalez e o conceito de amefricanidade
Lélia Gonzalez trabalhou traduzindo livros de filosofia da língua francesa para o português, organizou grupos de estudos em sua casa para leituras e discussões de obras relevantes da época. Participou ainda de inúmeras conferências e encontros acadêmicos dentro e fora do país, tornando-se possivelmente a intelectual negra que mais circulou por países estrangeiros.

O Pessoal é Político
O documentário aborda a segunda onda do feminismo no Brasil, especialmente no período de 1975 a 1985, instituído pela ONU como a Década Internacional da Mulher. No período, o corpo da mulher ganha lugar de destaque em plena ditadura.
Maria Beatriz do Nascimento
Você sabia que Maria Beatriz do Nascimento também era poetisa e utilizou sua escrita como ferramenta para narrar a experiência da mulher negra?

Corpo livre de padrões
Arte, hobbies, carreira: “A gente tem que viver a vida e ser feliz e fazer o que a gente quer fazer, não deixar esses padrões, essas imposições limitarem a gente”. O corpo nos permite ir além de muitas possibilidades, basta se sentir livre e tentar! Como elas nos ensinam, não dá mais para perder tempo nenhum com os preconceitos!

Arroz, o queridinho do prato brasileiro
O arroz é tão presente na vida do brasileiro, que a combinação “arroz com feijão” já se tornou expressão cotidiana para indicar o que é

O que é macumba e como mudar o sentido pejorativo da palavra
Tatiana Galvão fala sobre o termo macumba e a conotação negativa que essa palavra acabou tendo com o passar do tempo no Brasil. Para ela, a palavra macumba em si não é um problema, tanto que ela a usa em seu vocabulário.

Albertina Bertha
Albertina Bertha foi uma escritora brasileira do século XIX. Em seus textos para a imprensa, sua visão feminista a destaca, denotando um pensamento bem à frente de seu tempo.
Mercado editorial brasileiro
“Uma grande editora tem dois poderes importantes: distribuir o livro, que é um processo caro no país; e divulgar de forma ampla!” Ana Elisa Ribeiro

Ivone Lara, a primeira mulher compositora de escola de samba
A primeira mulher a integrar uma Ala de Compositores de Escola de Samba foi Ivone Lara, estando a frente da Império Serrano. Ela assina o samba-enredo considerado como um dos melhores de todos os tempos, Os Cinco Bailes da História do Rio.

Jane Santos
Jane Santos é professora na UNIRIO e realiza pesquisa nas áreas de Sociologia Urbana, História, Educação, Política Educacional e Violência Urbana.

Websérie Moda sem Medida: assista e aprenda a amar seu corpo!
Você já se sentiu excluída ou inadequada por não se encaixar nos padrões impostos pela indústria da moda e pela sociedade? Se sim, saiba que você não está sozinha. Muitas mulheres enfrentam o mesmo problema todos os dias, e é por isso que o Mulheres de Luta lançou a Websérie Moda sem Medida, uma produção que retrata o universo da moda para mulheres gordas no Brasil e incentiva as mulheres a se amarem e se divertirem com seus corpos, independentemente dos padrões impostos.
Tereza de Benguela
A trajetória da escravidão no Brasil possui fortes laços com uma Rainha que revolucionou seu tempo. Essa figura se tornou um símbolo nacional feminino de

A abrangência da reforma administrativa
“O grande problema desta Reforma é que foi feita para parte da burocracia pública, ou seja, não atinge o Judiciário, o Legislativo e os Militares!”
Fernanda Young
Você sabia que Fernanda Young foi duas vezes indicada ao Emmy Internacional de melhor comédia?