No Brasil temos muitas mulheres negras para nos inspirar. A maioria delas não têm suas histórias contadas na grande mídia, faltando às mulheres negras brasileiras mais exemplos de identificação.
Algumas dessas mulheres quando retratadas não são identificadas como negras, como é o caso de Chiquinha Gonzaga, a autora da primeira marcha de Carnaval “Ó Abre Alas”.
Chiquinha era filha da ex-escravizada Rosa Maria de Lima e do militar de origem aristocrata José Basileu Gonzaga, participou do movimento para a abolição da escravidão e chegou a angariar fundos para a Confederação Libertadora, vendendo suas partituras de porta em porta.
Outras tantas mulheres negras merecem destaque na narrativa de suas histórias, como a escritora Maria Firmina dos Reis, primeira romancista negra brasileira. Ela abre espaço para a voz dos escravos em suas obras, inserindo-os no lugar de protagonismo sobre a reflexão de suas próprias vidas.
Marielle Franco desde cedo foi influenciada por sua tia (na verdade prima) Fátima Solange, que é do movimento negro. Foi ela quem lhe apresentou Carolina Maria de Jesus.
A escritora Carolina Maria de Jesus é autora de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, e é considerada uma das mais importantes escritoras do Brasil.
Mas a desconstrução dos paradigmas impostos e o resgate histórico e cultural da negritude, bem como o entendimento da importância do protagonismo da mulher negra, não ocorrem de uma hora para outra. É um processo pelo qual Marielle também passou.
“O lugar de pertencimento meu com a favela era outro. Eu falava que morava em Bonsucesso. Por que tinha uma negação, né? Afinal a gente não quer ter o estigma de elemento suspeito (…) e nem o estigma do favelado.”
Marielle Franco
A força de Marielle vem da sua vivência e também da influência de protagonistas negras, especialmente de biografias, nas quais a história dessas mulheres se converge com a de outras mulheres negras, reforçando a identificação.
O poema “Eu Mulher” de Conceição Evaristo é uma das obras que foi constantemente revisitada por Marielle. A autora apresenta o conceito de “escrevivência” trazendo sua trajetória para a construção de sua escrita e de si mesma.
Sobre essas e outras influências que contribuíram para a construção da mulher Marielle Franco você poderá conferir na entrevista que ela concedeu ao Mulheres de Luta.
Leave a Reply