Obá é o nome da grandiosa yabá guerreira, reconhecida por sua força e por suas inúmeras vitórias em batalhas. Sempre com o escudo em mãos, jamais deixa de lutar. Ao passo que, também, é a deusa acolhedora que entende e acalenta as dores do coração de seus filhos e filhas.
Origem
Obá, também conhecida como Yobá, é a deusa, dona do rio batizado com o seu nome. Este é o que se localiza na região da Nigéria, no continente africano. Ela faz parte do grupo das orixás femininas das águas doces, exercendo seu domínio sobre as águas turbulentas e caudalosas dos rios.
Onde há encontros agitados das águas, ou pororocas (fenômeno natural que ocorre com o encontro do rio com o oceano, gerando ondas do lado das águas doces), ali se encontra uma morada de Obá. Próxima de Nanã, orixá da sabedoria, ele exerce poder, também, sobre a lama e as águas lodosas.
Guerreira que jamais abandona a luta
Obá enfrenta qualquer batalha e luta por todos os seus objetivos, por isso é largamente conhecida como uma grande guerreira. As narrativas iorubanas contam que Obá é uma orixá muito poderosa, sendo mais forte que a maioria dos deuses masculinos.
Ela desafiou e venceu batalhas contra Xangô, derrotou Oxalá e Orumilá, colocou Exú para correr. Do mesmo modo, ganhou de Obaluaé e Oxóssi. Até que chegou a vez de Ogum, o orixá da guerra.
Temendo a força e agilidade de Obá, Ogum consultou um Ifá, o oráculo africano. E ele recomendou que Ogum fizesse uma mistura de quiabo com milho e amassasse tudo em um pilão, a fim de obter uma mistura muito viscosa e escorregadia.
No dia da luta, Ogum passou essa pasta no local da batalha. Chegada a hora, Obá foi levada para o lugar em que a mistura havia sido colocada. Então, ela se desequilibrou, perdendo a luta. Ogum somente venceu a luta porque trapaceou, caso contrário, ela provavelmente teria vencido. No entanto, logo depois desse episódio, eles se casaram, mas ela não era feliz. Porque, no fundo, ela sentia que ele não era o seu grande amor.
O amor por Xangô
Necessitando de novas armas, Xangô foi até a forja de Ogum. Ao vê-lo, Obá se encantou, apaixonou-se e foi embora com ele, deixando só o seu primeiro marido.
Obá e Xangô se casaram, ela o acompanhava nas diversas batalhas, juntos, eles lutavam e venciam as guerras. Mas a deusa não era a única esposa, ele também era casado com Oxum, de quem ela contraiu muitos ciúmes.
Obá e Oxun desenvolvessem uma grande rivalidade entre elas, por isso, em África se constata que o encontro do rio Obá com o rio Oxum é muito agitado. Devido a disputa das rainhas yabás pela preferência de Xangô.
Obá, uma deusa humanizada
Obá é uma orixá de temperamento forte e desafiador. Por ter enfrentado diversos deuses e vencido a todos eles, ela é vista como aquela que desafia as capacidades masculinas.
Yobá é a personificação da resistência que habita em todas as mulheres, ela incentiva a luta feminina por seus direitos, pelo respeito e por seu lugar no mundo. Sua história demonstra que não há diferença entre homens e mulheres, seja no que se refere à força ou mesmo qualquer outra coisa.
E o recado mais importante é que a fragilidade não é inerente ao sexo feminino, é uma condição humana. E quanto a guerra, as mulheres, também, podem lutar em batalhas e vencê-las.
Vigor e coragem são as marcas de Obá, ela detém uma força extraordinária e não teme a nada. Em diversas regiões da África é conhecida e cultuada como a grande deusa do poder feminino, sempre defendendo aquilo que acredita. Suas filhas são incentivadas a buscar seus sonhos, bem como a ir ao encontro dos seus ideais.
Por conta de suas relações amorosas frustradas, seja com Ogum ou com Xangô, ela acolhe e ampara as pessoas que têm problemas com relacionamentos. E em função da briga com Oxum, é reverenciada saudada como a orixá do amor e do ciúme.
Nas religiões de matriz africana, o lado esquerdo pertence ao feminino, e Obá, a guerreira, é a guardiã da esquerda, sendo aquela que rege e protege a todas as mulheres.
Os símbolos de a saudação para Obá
Além de guerreira, Obá é uma excelente caçadora, ofício que teria aprendido como Oxóssi, o orixá da caça, da floresta e dos animais. Por isso, entre os seus símbolos estão o arco e a flecha, instrumento útil tanto para as lutas quanto para caçar.
Ela também tem a espada e o escudo que sempre lhe acompanham, sinal de sua prontidão para participar das guerras e batalhas. Jamais encontrará Obá sem suas armas – feitas de cobre – ou despreparada para a luta.
Para saudar a deusa da guerra basta dizer: Obá siré, que significa “rainha poderosa”. Suas cores são o vermelho, o branco, e o amarelo. Mas é possível encontrá-la com indumentárias cor de rosa. Essas cores demonstram toda sua força e ressalta sua imponência.
As iaôs que dançam para Yobá levam um turbante colocado em suas cabeças, devido a tradição que conta que Obá cortou as suas próprias orelhas por influência e incentivo de Oxum. Por isso, a deusa guerreira costuma dançar com as mãos sobre as orelhas, a fim de cobri-las.
Quando Obá e Oxum estão na mesma roda, precisam ser mantidas separadas para evitar conflitos. Suas danças contém passos e gestos que lembram batalhas e enfrentamentos. Por isso, as iaôs arqueiam a espada e o escudo durante seus movimentos.
O ebó de Obá
Para agradar a deusa da guerra deve-lhe ofertar: acarajé, feijão fradinho, alimentos feitos à base de quiabo, camarão e azeite de dendê. Porém, em hipótese nenhuma lhe deve ser ofertado folhas de taioba ou cogumelos, pois essas são suas quizilas, que geram uma influência negativa sobre sua força vital, seu axé.
As filhas e filhos de Obá
Suas filhas e filhos são pessoas bastante obstinadas e extremamente verdadeiras. De maneira que a forma sincera com a qual se posicionam e falam sobre o que pensam pode chegar a magoar as outras pessoas. Possuem poucos amigos, mas são extremamente fiéis aqueles que amam. Em geral são pessoas ciumentas, característica herdada de sua mãe Obá. Investem bastante na carreira profissional. As filhas enfrentam problemas com o machismo, mas não deixam de exercer com excelência a profissão que escolheram, geralmente são ótimas advogadas, juízas ou delegadas, também demonstram aptidão em profissões que exijam um bom condicionamento físico.
Inspiração e ação na força de Obá
A rainha da guerra nos ensina sobre a força e a potência que habita dentro de nós, ela nos lembra a necessidade de lutar por aquilo que acreditamos e pelo que queremos. Obá é a voz da profecia que reverbera a lição de que as mulheres não são inferiores aos homens e que podem, inclusive, vencê-los em batalhas.
Obá impulsiona a não pararmos do nosso caminho, ela desperta a força que habita em nós.
Referências bibliográficas:
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
SIQUEIRA, Maria de Lurdes. Agô Agô Lonan mitos, ritos e organizações em Terreiros de Candomblé na Bahia. Mazza Edições: Belo Horizonte, 1998.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Salvador: Corrupio, 2002.
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