“Geralmente começar a carreira é o mais difícil, porque ninguém conhece a gente, ninguém nunca ouviu falar, então lançar os primeiros livros, em geral, é o mais difícil.”
Stella Maris Rezende
Selecionar as primeiras palavras que darão origem ao livro, se encantar pela sonoridade das palavras que surgem como uma partitura rítmica, deixar a história surgir na cabeça e colocá-la em palavras, selecionado as mais interessantes para essa narrativa são algumas das experiências pelas quais diversas escritoras brasileiras passam ao longo da vida.
Uma vez que a obra esteja escrita os desafios aumentam, pois surge o momento da publicação.
Viver de escrita não é uma tarefa fácil. A maioria das escritoras brasileiras não têm suas fontes de renda apenas na publicação de seus livros, dividindo-se em outras atividades que também complementam a renda.
Por serem mulheres, muitas vezes são desacreditadas, especialmente ao escreverem sobre temas ou assuntos que não sejam de suas vivências pessoais.
Apesar de vivermos em um país gigantesco, há também o desafio de conquistar o público e estimulá-lo a se tornarem leitores.
Todos esses obstáculos fazem parte dessa trajetória.
Quando criança, a professora de Stella Maris Rezende já percebia que a menina tinha potencial para ser escritora, Alice Ruiz publicou seu primeiro livro aos 34 anos, mas já escrevia desde criança, Lya Luft publicava artigos no jornal de sua cidade, Nélida Piñon relembra as dificuldades que enfrentou no início de sua carreira de escritora, Susana Fuentes relembra seus primeiros contos publicados, Natália Borges Polesso reconhece a importância que um prêmio trás à vida de uma escritora.
Saiba mais sobre essas e outras histórias no quinto episódio da série Literatura, Substantivo Feminino. Nesse episódio, as escritoras dividem suas histórias sobre suas Primeiras Publicações.
As Primeiras Publicações das Escritoras
Desde pequenininha Stella Maris Rezende já escrevia. Encantada pela sonoridade das palavras, ela juntava as letras, formava as palavras e o texto ia surgindo.
“Era interessante porque eu não preparava história, eu não ensaiava, eu não sabia que história eu ia contar, vinham aquelas palavras, eu ia inventando a história na hora, desde pequenininha eu senti a magia da palavra.”
Esse processo mágico da escrita, do momento em que a obra vai sendo formada, é estimulante. Mas, quando o livro termina de ser escrito surge outro desafio: a publicação.
Vivemos hoje um período muito peculiar se comparado às décadas anteriores. Muitos escritores utilizam a internet para a difusão de suas obras, proporcionando que muitos jovens escritores se aventurem com mais facilidade à difusão de seus trabalhos.
No entanto, isso não exclui a importância das editoras, afinal, são elas que proporcionam a divulgação do livro, além de conferirem uma credibilidade que chama a atenção dos leitores, especialmente quando você ainda é uma escritora desconhecida.
Ou seja, do término do livro para a publicação há um longo trajeto e essa é uma jornada que toda escritora vivencia.
As inseguranças e as dificuldades encontradas são inúmeras e cada uma dessas escritoras passaram, à sua maneira, por esses desafios.
Assim como Stella Maris Rezende, Alice Ruiz também começou a escrever desde criança. Nessa fase não havia para a escritora a intenção de que sua obra fosse publicada, ou um motivo específico que a levava a escrever. Simplesmente escrevia. Alice Ruiz relembra.
“Eu publiquei o primeiro livro aos 34 anos de idade, não porque eu tivesse medo antes, muita gente publica livro sei lá com 20 anos, 19.”
A publicação na vida de Lya Luft começou mais cedo, levando seus artigos para o público através do jornal da cidade.
“Eu comecei a escrever assim, eu escrevia artigo para o jornalzinho da cidade, quando eu era adolescente em Santa Cruz, depois vim para cá e então comecei a escrever. Eu tinha uma coluna no Correio do povo, 25, 26 anos.”
No entanto, Lya Luft ainda relata que se reconheceu como escritora um pouco mais tarde.
“O primeiro romance que eu comecei a me considerar escritora foi “As Parceiras”, em 80, quando eu já tinha 41 anos, 42.”
Independente do momento em que essas escritoras se empenharam para realizar suas primeiras publicações, as dificuldades foram semelhantes.
Nélida Piñon relembra como foi ser uma escritora em início de carreira.
“Não foi fácil ser mulher, ser bonitinha e ter acesso ao meu conceito de dignidade e, outra coisa, a minha soberania, porque eu não queria pertencer a grupos.”
A motivação de Nélida Piñon vinha de sua mãe, que reconhecia as dificuldades de ser uma escritora no Brasil.
“(…) ela já tinha essa noção, sobretudo, para uma escritora que eu acho que tentava uma estética talvez inovadora, que evidentemente disputava sem querer um espaço que julgavam adequado para os homens, essa que é a verdade, não é fácil.”
As Dificuldades de Ser Escritora
Nélida Piñon conheceu desde cedo as dificuldades de ser escritora, especialmente sendo uma escritora no Brasil.
Susana Fuentes também vivenciou esses obstáculos, especialmente ao tentar encontrar uma editora que se interessasse por suas obras. Mas houve uma reviravolta em seu início de carreira que possibilitou suas primeiras publicações.
“Como era difícil encontrar uma casa editorial, até que eu mandei um conto para uma revista, (…) 6 meses depois eles me ligam, falaram: “olha, agora no mês de setembro nesta edição da revista, escolhemos o seu conto, ele vai estar ali”. Esse foi o meu encontro com a 7 Letras.”
Stella Maris Rezende não quis esperar até que uma editora se interessasse pela sua escrita. Suas primeiras publicações foram bancadas por ela mesma, mas, chegou um momento em que isso não era mais uma escolha possível para ela.
“Eu pensei, não vou mais gastar dinheiro, eu vou fazer algo que alguma editora goste, vou trabalhar bastante. Então eu escrevi muito, comecei a participar de concursos e um dia ganhei um prêmio, me encorajei e mandei um texto para várias editoras, para quase 20, demorou bastante, que as editoras demoram a responder.”
Embora tivesse que esperar mais um tempo, em breve as editoras começaram a se interessar pelas obras de Stella Maris Rezende, até que o convite para a publicação de um livro surgiu.
A primeira publicação de Nélida Piñon veio em tom de exigência. A escritora sempre soube o quanto é exigente com sua escrita, mas também fez questão de ser em sua primeira publicação.
Ao ser requisitada para publicar seu livro no mesmo volume com um romance de Elisa Lispector, Nélida Piñon recusou. Nélida disse que tinha interesse em ir para São Paulo apresentar seu texto para um editor que apostava em jovens escritores.
“Aí ele disse assim: “nesse caso eu público”. Ele ficou angustiado de me perder, pelo o que eu pude deduzir, aí foi um diálogo impressionante. Ele disse assim: “e quando você quer o livro?”, isso mais ou menos em abril, maio. Eu disse: “ah, eu quero em outubro”. Como se fosse a coisa mais natural ele me oferecer e eu exigir. E ele: “então tá”. Efetivamente ele publicou em outubro.”
Mas, depois de publicado surge ainda outro desafio, o de conquistar leitores, afinal, toda escritora sabe que o reconhecimento só pode vir quando seu livro é lido.
O Reconhecimento das Escritoras
Lya Luft relembra o sucesso da publicação de seu livro “As Parceiras”.
“Até que um dia o editor me ligou, depois de uns meses, e disse: “Lya, em três meses esgotou a primeira edição”, devia ser uma edição pequena de 5 mil, eu achei maravilhoso, eu imaginava um povoadinho de 5 mil pessoas todos lendo.”
O reconhecimento pode vir de diversas formas. Lya Luft relembra o sucesso de “As Parceiras” por ele ter sido requisitado para uma segunda edição. A verdadeira vitória para quem escreve um livro é sobretudo que esse livro tenha muitas tiragens e leitores interessados.
O reconhecimento também pode vir da crítica, como no caso de Alice Ruiz, que ficou ainda mais segura em publicar seu primeiro livro tendo o respaldo de pessoas que ela confiava.
“Eu esperei a opinião de outras pessoas, eu mostrei o meu trabalho para muitas pessoas, cuja sensibilidade eu respeitava, e gente do meio também, do meio literário, (…) se alguém falasse mal, estava falando mal de si, não do meu trabalho, porque tinha em contraponto todas as outras pessoas incríveis.”
Mas há também o reconhecimento que surge a partir da premiação. Para Alice Ruiz não é necessariamente um prêmio que determina que um certo livro seja melhor que os demais que foram inscritos em um prêmio, mas ele traz benefícios
“O prêmio de certa forma dá mais visibilidade, mas eu tenho episódios na minha vida que, de certa forma, me premiaram mais do que os prêmios literários. (…) Um livro chamado “Navalha na Liga” ganhar um prêmio, num estado careta e numa capital corretíssima, foi bem interessante, isso aconteceu nos anos 80.”
Para Natália Borges Polesso a premiação trouxe inúmeros benefícios.
“Os prêmios, eles acabam sendo uma espécie de vitrine e a sua vida muda, você começa a fazer parte de alguma coisa, as pessoas vêm te procurar. (…) A sensação de ter ganho e estar nesse lugar para mim foi muito bacana, de ter esse reconhecimento, além do reconhecimento dos leitores, o reconhecimento do júri crítico da sua obra.”
Conheça as histórias de Stella Maris Rezende, Alice Ruiz, Lya Luft, Nélida Piñon, Susana Fuentes e Natália Borges Polesso em Primeiras Publicações, o quinto episódio da série Literatura, Substantivo Feminino.
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