Red: Crescer é uma Fera, e a mulher à frente e em torno das telas

Na sexta-feira, dia 11 de março de 2022, foi lançado na plataforma Disney+ a animação “Red: Crescer é uma Fera”. O longa já estreou conquistando alguns marcos. É o primeiro longa-metragem da Pixar dirigido exclusivamente por uma mulher: a sino-canadense Domee Shi.

Domee Shi também assina o roteiro ao lado de Julia Cho, e a história é de autoria de Sarah Streicher. A produção ficou a cargo de Lindsey Collins, formando um time de peso de mulheres do cinema de animação. A protagonista do longa é Meilin Lee, uma menina de 13 anos que foi dublada originalmente por Rosalie Chiang e no Brasil, ganhou a voz de Nina Medeiros.

A participação das mulheres, especialmente em obras de animação, é muito menor se comparada aos homens, seja na direção e na criação de roteiros, bem como na construção de personagens femininos da trama. “Red: Crescer é uma Fera” se destaca nesses e em outros quesitos.

Saiba mais sobre o filme e como a diretora Domee Shi representou as mulheres com seu primeiro longa-metragem.

Red e a adolescência da mulher

Red é o primeiro longa-metragem de Domee Shi. A ilustradora, diretora e roteirista canadense de origem chinesa entrou na Pixar como estagiária e contribuiu para diversos filmes da casa, como Divertida Mente (2015), O Bom Dinossauro (2015), Os Incríveis 2 (2018) e Toy Story 4 (2019).

Bao foi o primeiro curta dirigido por uma mulher na Pixar, obra que trouxe a Shi o reconhecimento da academia com o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação de 2019. Bao foi inspirado nas experiências de Shi, filha única de pais chineses que imigraram para o Canadá.

Shi não deixou de colocar um pouco de seu universo também em “Red”. A protagonista Mei é uma menina sino-canadense, assim como Shi, mas dessa vez ela mergulha no tema trazendo a perspectiva de uma criança.

Enquanto Mei cresce, ela se vê entre o Oriente e o Ocidente, entre as mudanças que ocorrem em seu corpo e as relações que possui com a família e amigos, especialmente com sua mãe superprotetora. “Red: Crescer é uma Fera” explora os desafios da adolescência, tanto os externos quanto os internos. Quando essas emoções fogem ao seu controle, Mei Lee se transforma em um panda vermelho gigante, uma metáfora para os desafios da puberdade e da menstruação.

Para a diretora, “O panda vermelho é uma metáfora não apenas para a puberdade, mas também para o que herdamos de nossas mães e como lidamos com as coisas que herdamos delas”, comentou Domee Shi ao site Polygon. A menstruação é um assunto praticamente inexplorado em obras infantis, mesmo nas que apresentam protagonistas femininas adolescentes. 

Mei tem 13 anos, está no ensino fundamental, é extrovertida, ambiciosa e dedicada à escola e ao templo ancestral de sua família. Seu grupo de amigas é formado por Miriam, uma menina divertida e tranquila, Prya, que tem um senso de humor irônico e é bastante artística e Abby, uma menina pequena e destemida que adora a versão panda de Mei e não mede esforços para defender suas amigas. As quatro garotas são unidas, amigas e fãs e uma banda chamada 4*Town.

Domee Shi disse que encorajou a equipe a explorar suas memórias do ensino médio, sem julgamentos. Parte disso é a banda 4*Town, uma boyband que, para a diretora, desempenha um papel importante na vida adolescente. Muitas vezes, essas bandas recebem críticas das pessoas mais velhas por estarem associadas ao universo adolescente, como se os mais velhos estivessem zombando do que um dia foram fãs.

“Eu queria retratar boy bands, homenageá-los e torná-los uma grande parte da história da vida de Mei, porque para muitos meninos e meninas adolescentes, [uma boy band foi] sua primeira obsessão musical. (…) Foi apenas uma pedra angular na vida deles, crescer, desenvolver esses sentimentos e tentar entender de onde vêm todas essas emoções”, comentou Shi.

Para mais mulheres na direção de animações

A primeira animação da história do cinema data de 1892, com o filme Pauvre Pierrot, de Emile Reynaud, e desde então o cinema de animação cresceu, mas a participação de mulheres ainda é pequena.

Segundo a USC, Annenberg Inclusion Initiative, em parceria com o grupo Women in Animation, nos últimos 12 anos apenas 3% dos cargos de direção foram ocupados por mulheres, sendo que a única não branca da lista foi Jennifer Yuh Nelson por Kung Fu Panda 2.

Na televisão, apenas 13% dos episódios de animação de 2018 foram dirigidos por mulheres, sendo apenas 3 delas não brancas.

Em 2012, o filme Valente, também da Pixar, foi dirigido por Brenda Chapman, que foi substituída enquanto o projeto ainda estava em andamento por Mark Andrews, dividindo com o colega os créditos da direção.

O The New York Times apontou que homens dirigiram 23 dos 24 longas da Pixar, 20 desses 24 tiveram protagonistas masculinos. Além disso, 50 dos 59 roteiristas do estúdio são homens.

Observar esses dados salienta a importância de observarmos não apenas o que estamos consumindo, mas quais pessoas estão por trás do que estamos consumindo, e se há diversidade ou não na criação dessas obras.

Uma coisa fica evidente, “Red: Crescer é uma Fera” se destacou na forma como abordou suas personagens femininas. Mei não é uma princesa clássica da Disney, e nem uma mulher forte e independente. Ela convive com a cultura pop e com a cultura tradicional de seus pais. É uma menina em fase de transformação, em busca da formação de sua identidade, uma menina cheia de contradições, o que a torna uma protagonista mais próxima da realidade, com a qual muitas meninas com certeza vão se identificar.