Sonia Braga, a atriz brasileira que conquistou Hollywood

“Antes de ser atriz, sou trabalhadora. As pessoas não compreendem a arte como uma profissão”.

Sônia Braga

A frase acima de Sônia Braga para o jornal O Globo, em setembro de 2019, vem em resposta aos que criticam os artistas por acharem que produzir arte não é um exercício profissional. A biografia da atriz, no entanto, mostra que sua trajetória foi construída sobre muito trabalho, e continua sendo.

Sônia Maria Campos Braga nasceu em Maringá, Paraná, em 8 de junho de 1950. Seus pais, a figurinista Zezé Braga (Maria Braga Jaci Campos) e Hélio Fernando Ferraz Braga tiveram Sônia, Júlio, Ana, Hélio e Maria. 

Aos 8 anos de idade, Sônia Braga enfrentou a morte do pai e a mudança para uma Escola convento em São Paulo. O trabalho começou logo na adolescência. Aos 14 anos atuava em programas da TV Tupi, especialmente em teleteatros infanto-juvenis como o Jardim Encantado que era apresentado por seu irmão Hélio. Aos 17 anos, estreou na peça O Marido Confundido, de George Dandin, apresentado pelo Grupo Teatro da Cidade no Teatro de Alumínio de Santo André, São Paulo.

Sua participação no filme O Bandido da Luz Vermelha, em 1968, foi apenas o início de uma carreira vasta no cinema. Em 1970 atuou em A Moreninha e em Cléo e Daniel.

Na TV Globo, atuou em Irmãos Coragem, em 1970, e Fogo Sobre Terra, em 1974, ambas da escritora Janete Clair, além de ter participado da Vila Sésamo no início da década de 70.

Em 1969, durante o período mais duro da ditadura, o musical Hair teve sua estreia no Brasil, no Teatro Bela Vista em São Paulo. Sônia Braga, com 18 anos na época, integrava o elenco após insistência de Altair Lima, ator e produtor do musical, já que a princípio ela teria sido recusada pelo diretor Ademar Guerra. A insistência valeu a pena, especialmente para Sônia Braga que foi a grande estrela do musical e eternizada por Caetano Veloso na música Tigresa com “uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel, ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair“.

Em 1975, Sônia Braga arrebatou de vez o Brasil ao atuar na novela Gabriela. A obra televisiva de Jorge Amado alcançou uma audiência impressionante para a época, cerca de  25 milhões de pessoas. Em 1977, Sônia Braga atuou em outra obra de Jorge Amado, dessa vez para as telonas. Dona Flor e seus Dois Maridos, com direção de Bruno Barreto, alavancou o nome de Sônia Braga para o mercado internacional. 

Em 1976, atuou na novela Saramandaia da Rede Globo e em 1978 na novela Dancin’ Days

Do Brasil à Hollywood

Em 1981 Sônia Braga atuou no filme de Arnaldo Jabor, Eu te Amo, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado. Em 1983, Gabriela vai para o cinema com Sônia Braga atuando ao lado de Marcello Mastroianni, mas foi em 1985 que Sônia Braga alcançou o reconhecimento internacional com o filme O Beijo da Mulher Aranha.

A migração das atividades profissionais do Brasil para os Estados Unidos não foi exatamente uma escolha de Sônia Braga. Em entrevista ao Roda Viva da TV Cultura, em 1997, ela conta que estava tudo certo para estrelar outro filme do Jabor, “Eu sei que vou te amar”. Após as gravações do filme “O Beijo da Mulher Aranha”  e antes de iniciar as gravações do novo filme, Sônia foi passar um tempo com uma amiga nos Estados Unidos, até que recebeu a notícia de que o diretor tinha optado por outra linha de condução para o filme, decidindo também por um outro elenco.

Desempregada, porque tinha recusado outros convites de trabalho, Sônia Braga decidiu tirar férias nos Estados Unidos, mas o trabalho a seguiu. Essa época coincidiu com a estréia do “Beijo da Mulher Aranha”, e como comentou Sônia Braga,

“Willian Hurt tava trabalhando, o Raúl Juliá tava trabalhando, o Babenco tava trabalhando, só tinha eu pra fazer publicidade do filme (…) Eu fiz todas as fotos pras revistas que você possa imaginar. Eu trabalhei na publicidade do “Beijo da Mulher Aranha” um ano, sem parar. Com isso, um ano morando lá, eu aprendi inglês e melhorei muito o meu inglês. Todas as vezes que eu decidia vir pro Brasil me chamavam de volta.”

A partir de então, Hollywood abriu as portas para Sônia Braga. Em 1987, a atriz tornou-se a primeira brasileira a apresentar uma categoria do Oscar, ao lado de Michael Douglas. Em 1988, atuou em Rebelião em Milagro, dirigido por Robert Redford, e em 1989 em Luar sobre o Parador, que lhe rendeu uma indicação para o Globo de Ouro como melhor atriz coadjuvante. Em 1990, atuou no filme The Rookie de Clint Eastwood e em diversas séries americanas. 

A atuação de Sônia Braga em Amazônia em Chamas (The Burning Season), de 1994, trouxe uma indicação de melhor atriz coadjuvante no Globo de Ouro de 1995.

Em 1995, sua atuação na minissérie Streets of Laredo, O Último Desafio no Brasil, exibida pela CBS, lhe rendeu uma indicação no ALMA Award (American Latino Media Arts Award) como Melhor Performance Individual em um Filme para a Televisão ou Minissérie.

Em 1996, Sônia Braga atuou no filme Tieta do Agreste com direção de Cacá Diegues. Após décadas fora das telas brasileiras, Sônia Braga fez uma participação na novela Força de um Desejo, em 1999, e durante os anos 2000, não faltaram participações na TV americana. Sônia Braga participou das séries Sex and the City, Law & Order, Ghost Whisperer, CSI: Miami e American Family.

Entre Hollywood e Brasil

Em 2006, voltou à TV brasileira na novela Páginas da Vida, em 2010, na série As Cariocas, no episódio “A Adúltera da Urca” e em 2011 em Tapas & Beijos.

Em 2016, atuou no filme brasileiro Aquarius de Kleber Mendonça Filho. O filme recebeu excelentes críticas e rendeu à Braga os prêmios de melhor atriz pelo ICS Cannes Awards, no Festival de Lima, Festival Biarritz Amérique Latine, no Festival de Havana, no Prêmio Fênix, No San Diego Film Critics Society Awards, no Prêmio Platino e no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, além de inúmeras outras indicações.

A parceria com o diretor Kleber Mendonça Filho se repetiu no premiado filme Bacurau. Em 2020, Sônia Braga representou a Irmã Lúcia no filme de Marco Pontecorvo, Fátima.

Ainda em 2020, Sônia Braga integrou a lista dos 25 melhores atores do século XXI do New York Times, ao lado de Isabelle Huppert, Nicole Kidman e Viola Davis.

Aos 71 anos, Sônia Braga traz consigo uma trajetória de muito trabalho na televisão e no cinema. A mulher talentosa e sensual que conquistou Hollywood também é ousada e transgressora, sempre quebrando paradigmas. 

Em entrevista à revista Elle, em 2016, comentou que “Há mulheres que, se não tiverem um filho, enlouquecem. Nunca senti essa necessidade”

Sobre romper com padrões de beleza, Sônia assumiu os cabelos brancos e declarou à Vogue em 2019: “É uma sensação de liberdade muito grande, de normalidade, de natureza mesmo. Agora me reconheço melhor, e combina mais com meu rosto.”

Nas redes sociais ela também é atuante, seja postando fotos de trabalho para seus fãs ou se posicionando sobre questões sócio-políticas. No seu último aniversário, em seu perfil do instagram, ela pediu: “A enorme crise que atingiu o mundo, e principalmente o Brasil, deixou milhares de pessoas sofrendo com o desemprego e a falta das coisas mais básicas, como alimentos e materiais de higiene e limpeza. A sua ajuda a alguma campanha de doação será o maior presente que eu poderia receber neste momento. Aniversários podem ser adiados, mas a vida e a fome, não”.

Sônia Braga continua deixando sua marca na história como atriz e como mulher plena que inspira a todos nós.

Referências

Esmeralda Santos. “Vim ao mundo para apimentar histórias”: Sônia Braga completa 70 anos. Revista Cláudia. 8 junho de 2020. Acesso em 02 de janeiro de 2021.

Nos 70 anos de Sônia Braga, veja 10 frases marcantes da atriz. GZH. 08 de junho de 2020. Acesso em 02 de janeiro de 2022.

Flavia Guerra. EXISTEM DUAS SONIAS BRAGAS, EU E A QUE VAI À PREMIERE. REVISTA TRIP/ UOL. 03 de junho de 2016. Acesso em 02 de janeiro de 2022.

Sônia Braga. Memória Globo. Globo. Acesso em 02 de janeiro de 2022.

Entrevista Sônia Braga. Roda Viva. 29 de dezembro de 1997. Acesso em 02 de janeiro de 2022.