Yabá, mãe rainha

iemanjá

As Yabás são as deusas africanas, as orixás mulheres. Por que elas são tão interessantes para mim e minha pesquisa? Cada uma tem uma trajetória, um perfil que vai diretamente contra ao que temos na nossa sociedade hoje!

Gilmara Mariosa

Em entrevista para o Mulheres de Luta, Gilmara Mariosa, mulher negra, psicóloga e pesquisadora, conta um pouco sobre as orixás femininas e sua influência na pesquisa que desenvolveu.

Mariosa explica que o significado de Yabás é Mãe Rainha. Na África, esse nome se restringia a Iemanjá e Oxum, já no Brasil se estendeu às outras divindades.

Transcrição da entrevista:

Gilmara Mariosa: as Yabás são Deusas africanas, dos Orixás mulheres, por que elas são interessantes para mim e para minha pesquisa? Porque cada uma tem uma trajetória, tem um perfil que vai diretamente ao contrário ao perfil que se tem da mulher na nossa sociedade hoje.

As Yabás representam mulheres guerreiras, mulheres que são treinadas para lutar, que lutam com a espada, que lutam no braço, que vão para guerra, são também mulheres que lutam pelos seus direitos, como de Oxum que ela não é convidada para participar de uma sociedade onde vai se decidir o destino do mundo e como ela é dona da fertilidade do mundo, ela não aceita.

Porque ela retira a fertilidade do mundo e nada mais nasce, só ela pode devolver isso pro mundo, sem nada nascendo o mundo não funciona, o mundo não se move. Os Orixás masculinos acabam tendo que convidá-la, implorar para que ela faça parte dessa sociedade, com isso ela leva todas outras Yabás também.

Por outro lado, são mulheres articuladoras, guerreiras, lutadoras, ao mesmo tempo são mães, são mulheres no sentido de serem sensuais e não desassocia uma coisa da outra. Yansã aquela que teve 9 filhos, deixa os filhos para poder ir para guerra, Oxum que cuida dos filhos, como muitas mães negras tem que fazer, tem que deixar seus filhos aos cuidados de outras para poder ir trabalhar, para poder ir lutar.

E ao mesmo tempo, Oxum é aquela mulher que é sensual, que seduz e ao mesmo tempo é mãe, então ser guerreira, ser mãe, ser mulher, não são coisas desassociadas nas tradições Africanas, são coisas que andam em conjunto.

E as mulheres da minha pesquisa, que são as mães de santo, minha pesquisa hoje, mais especificamente são as mulheres da Umbanda, na minha cidade a tradição maior é de Umbanda, essas mulheres negras, elas tem esse legado também, legados de serem mulheres protagonistas, mulheres lutadoras, mulheres que vão para o embate, mulheres que articulam.

Mulheres que são mães e que são mulheres também na sua essência, não cabem naquele estereótipo da mulher como delicada, como frágil que precisa de proteção, precisa de um príncipe para ser salda, isso não é um modelo, que nunca coube na mulher negra e muito especialmente na mulher das tradições matrizes Africanas que é aquela mulher que protagonista, que é fundadora dessas tradições e que é liderança.

Aquela que é chefe de terreiro, que é chefe da família religiosa, que é chefe do clã, aquela que é uma líder e uma referência, para ela aquilo ali é o preferencial. Tem entrevistadas da minha pesquisa que elas falam da importância do lugar da religião na vida delas e tem uma que ainda fala assim: “graças a Deus eu não casei, eu não tenho filho, então sou uma mulher livre, eu não tenho nada que me prende, então posso fazer o que eu quero da minha vida e eu posso me dedicar a minha religiosidade”.

Então essas coisas que na tradição branca europeia, demarcam o espaço da mulher, de realização de ser mulher, não cabem nas tradições de origens africanas e também não cabem para mulheres negras, porque a gente tem outra tradição ancestral. 

Saiba mais sobre as Yabás, as yabás femininas